CAMINHOS DA VIDA...

 

    O garçom acabara de me servir uma taça de vinho que eu prontamente aceitei , enquanto aguardava a melhor oportunidade de dar um forte abraço no meu amigo. Era o dia da sua formatura e estávamos num belo salão onde os formandos confraternizavam num agradável coquetel.

     Meu amigo era o mais velho da turma. Talvez fosse o mais velho de toda a Faculdade. E não foi só por esse motivo que foi escolhido como orador , mas porque também tinha sido um dos mais aplicados da sua turma. Ele estava radiante e depois de vários cumprimentos percebeu que eu estava num canto a observá-lo e veio em minha direção feliz, com um largo sorriso e com os braços abertos para me dar um esperado e forte abraço.

    Nos segundos que ele levou para chegar até onde eu estava fechei os olhos e procurei voltar no tempo, até aquela noite quando por acaso o encontrei num bar, com três ou quatro garrafas de cerveja na mesa e praticamente embriagado.

    Nem de longe poderia lembrar aquele amigo de infâcia que não via há muito tempo. Alto, forte, elegante, bonito e sempre rodeado pelas meninas mais bonitas do colégio. Naquela noite ele estava arrasado, irreconhecível.

     Tinha perdido a mãe recentemente de uma forma trágica e ainda não conseguira superar a perda. Por conta disso começara a negligenciar no emprego, o que acabou motivando sua demissão. Quer dizer, de repente parecia estar se abrindo um enorme precipicio ao seu redor.

     Quando o ví, entrei naquele bar mal cheiroso e até mal frequentado, sentei na sua frente e fique longo tempo a observá-lo. Ele parecia nem ter percebido minha presença. Eu interrompi seus pensamentos e perguntei o que estava acontecendo, porque estava daquele jeito e se ainda se lembrava de mim.

     Ele levantou os olhos e numa fala enrolada disse que sabia quem eu era e que não precisava de companhia. Aquela cena me tocou fundo. Fiquei com ele longo tempo e depois de pagarmos a conta, chamei um taxi e o acompanhei até sua casa.

     Consegui fazer com que ele entrasse . Só saí depois que sua mulher prometera que faria com que ele fosse dormir. No dia seguinte telefonei e combinei que à noite iria até a sua casa. Fui bem recebido.

     A sala era modesta e num sofá já bastante usado, sentei-me bem em frente aos dois e começamos a conversar. Meu amigo parecia um trapo.

     Estava desgostoso com a vida e segundo a mulher, já tinha até pensado em suicidio. Voltei a casa dele várias vezes e sempre, nas nossas conversas citei uma frase que certa vez li num letreiro que dizia o o seguinte : “VOCÊ PODE TER O QUE QUIZER! ACREDITE, VOCÊ CONSEGUE! É SO TENTAR”.

     Não sei se minhas visitas, reatando a velha amizade foi responsável pela recuperação dele. Creio que minha contribuição foi muito pequena. Mas a frase trouxe um efeito incrivel na vida do meu amigo.

     Com a ajuda da mulher ele começou a reconstruir seus passos. Diminuiu a bebida, começou a se cuidar, não demorou a recuperar o emprego e até voltou a estudar num cursinho preparatório.

     No dia que fora aprovado no vestibular me telefonou para almoçarmos juntos. Era outra pessoa. Voltara a ser aquele homem alto, forte, bonito e carismático. Quando cheguei ao restaurante ele me recebeu com um abraço e repetiu a velha frase.....”ACREDITE....VOCE CONSEGUE.....É SÓ TENTAR....”.

     Pois ele acreditou, tentou , conseguiu e agora estava ali, bem a minha frente me olhando com um largo sorriso, pronto a me dar um abraço. Ele não falou nada, seus olhos estavam cheios de lágrimas e algumas escorreram por sua face.

     Com a voz embargada ele só conseguiu pronunciar algo parecido com...........”amigo.......meu amigo..........você me fez acreditar............eu acredite.tentei.....consegui.......”. E me deu novo abraço quando então pude perceber soluços e as grossas lágrimas que escorriam das suas faces.......

    A verdade é que meu amigo saíra do fundo do poço. Depois de ser condenado por parte da sociedade, abandonado por alguns amigos e ter pensado em suicídio, conseguira se reerguer e galgar cada degráu que a vida lhe apresentara para recuperar seu prestigio, sua dignidade, e não desanimou em nenhum momento.

    Ele confiou na sua própria força, acreditou e reagiu. Quando o conheci, na nossa juventude, eu aprendi a admirá-lo por seu porte, seu carisma e sua coragem. O tempo e sua história me mostraram que a admiração era perfeitamente justificada.

     Meu amigo enxugou as lágrimas e sem dizer uma palavra se afastou para falar com outras pessoas.

     Fiquei a observá-lo longamente, enquanto pensativo mas feliz, tomava outra taça de vinho.....

 

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(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 19/09/2008
Reeditado em 01/02/2013
Código do texto: T1186984
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