...NO VARAL DA VIDA, A ALMA LIMPA, NOVINHA EM FOLHA...
Sentado na varanda de casa, o pássaro entra naquela velocidade característica e pousa em minha mão que estava sobre a cadeira. Fica ali por um tempo, ao começar a sorrir ele desaparece como mágica. Fico pensando na possibilidade de isso acontecer outra vez. De certa forma, quando ele partiu, levou muitas coisas com ele, e aquelas pequenas asas são capazes de suportar bastante peso, que a vida ficou leve após aquele momento de brilho. Eu queria saber da canção que ele cantava, para não esquecer nunca mais. Eu queria poder escrever uma canção, e não me importaria se todos esquecessem. Eu vivo mudando a direção do caminho, e quase sempre encontro mulidões na direção oposta e fica difícil atravessar a incompreensão humana, todos seguem de sorriso no rosto enquanto têm os olhos vendados. Eu gostaria de escrever uma canção assim... romântica, mas não sou a pessoa certa para adoçar a vida de vocês. Eu continuo procurando as palavras em meio aos espinhos e me machucando caso ache necessário. O vôo do pássaro significou muito mais que a partida. Acredito que pela primeira vez perdi algo que não vou sentir mais falta. Aquele buraco não é mais tão profundo quanto a pouca luz mostra, aquele buraco talvez nem exista mais. Eu já não me importo se hoje não vai chover, porque quando me preparava pra ir ao banho o pássaro retornou e dessa vez deixou um pequeno galho de folhas em meu colo e foi ao chão, dançar em seus passos velozes de quem só sabe pular antes de partir para a solidão do céu.
"...free as a bird..." THE BEATLES