Como é que se faz para esquecer o Vandinho?

COMO É QUE SE FAZ PARA ESQUECER O VANDINHO?

A pergunta do título mais se parece à lamúria inconformada de uma mulher descornada que acaba de ser abandonada pelo grande amor da sua vida. O grande amor da sua vida - dela como de todos nós, enfim - é o amor daquele preciso momento, do instante mesmo em que declaramos a qualidade grandiosa de tal amor.

Vandinho se foi - no caso, para o Flamengo -, tragédia que sabíamos que aconteceria mais cedo ou mais tarde. Jamais duvidamos que nosso artilheiro partiria um dia para brilhar com toda sua grandeza no Rio, em São Paulo ou na Europa. Se os times atualmente mais fortes do futebol brasileiro (relação na qual o Avaí se inscreverá em breve) não conseguem segurar os seus astros frente às tentações que os europeus balançam aos nossos olhos carentes de dinheiro, não seríamos nós que lograríamos reter o Vandinho.

Mas esperávamos que ele ficasse conosco pelo menos até o dia 29 de novembro, quando, na Ressacada, retiraremos oficialmente a passagem para a Série A e ele se consagraria, com a gloriosa camisa azul e branca, como o artilheiro do ano no Brasil. Jogando pelo Avaí.

Aliás, o jogo do dia 29 reveste-se de uma circunstância que nos é amplamente simpática: enfrentaremos exatamente o São Caetano, contra quem asseguramos, há dez anos, a primeira estrela nacional em torno do nosso escudo. A História se repetirá.

Meu angustiante problema, hoje, é que escrevo esta crônica na véspera de agosto para a revista do nosso 85o. aniversário, que ocorre em 1o. de setembro: escrevo justo na semana em que o Vandinho foi embora depois do gol antológico que marcou sobre a Ponte Preta e antes da nossa partida contra o CRB. Com o Abuda no estaleiro por 40 dias, perdemos de um golpe a dupla de área que se afinou, com sucesso, muito rapidamente. Não sei, pois, o que terá ocorrido durante todo um mês até vocês me lerem aqui.

O fato, porém, é que, para o Avaí alcançar mais 85 anos de glórias e vitórias, temos que esquecer os nossos ídolos. Homenageá-los mas esquecê-los, no sentido de que sejam substituídos por jogadores que se façam tão amados - e eficientes - quanto os seus antecessores.

(Amilcar Neves é avaiano, escritor e autor, entre outros, do livro "Relatos de Sonhos e de Lutas", contos)

Nota dos Editores (Nota que os editores da "Revista do Avaí - Paixão pra toda vida" - no. 1, ano 1, setembro de 2008 - redigiram e publicaram junto com a crônica acima): No decorrer da produção da Revista do Avaí - Paixão pra toda vida, descobrimos no grande avaiano Amilcar Neves um dom que não conhecíamos. Além de ter um texto irretocável, referência na literatura catarinense, ele também desenvolveu o talento da "premonição". Na crônica ao lado, sobre o atacante Vandinho, ele sugere que esqueçamos temporariamente nossos ídolos para que outros ocupem os seus lugares. Não é que ele estava correto!

Em pouco mais de 40 dias, desde a produção deste belo texto, novos atletas chegaram à Ressacada e conquistaram a exigente torcida avaiana. Evando, William, Joelson... É, realmente o Amilcar tinha razão. O espaço reservado para os ídolos em nossos corações já está ocupado novamente. E muito bem!

Amilcar Neves
Enviado por Amilcar Neves em 19/09/2008
Código do texto: T1186399
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.