VOVÓ IRENE A BENZEDEIRA DE QUEBRANTO

Vovó Irene Giubbina da Costa estava nos esperando com a mesa farta, como uma boa filha de italianos, ela mesma produzia a massa do macarrão, ravioli, capeleti,... tudo como havia aprendido da nossa nona Luiza Prezoto Giubbina. Que festa para os nossos olhos e principalmente para o nosso estômago! Depois do almoço brincávamos com os filhos da vizinha no quintal da casa dos meus avós, e, após muitas travessuras vovó nos chamava com sua voz alegre.

_ “Meninas o café esta na mesa. Venham logo, convidem as crianças para virem também”. _ vovó ainda tinha um jeito de falar o português “caipira” do interior paulista, misturando com algumas palavras em italiano.

Vovó era muito conhecida por ser benzedeira de quebranto, de nó nas tripas, de caxumba, de íngua, de espinha fora do lugar, de sapinho, de osso rendido, de nervo torto, de carne quebrada, de nervo sartado (saltado)... Ela possuía uma grande clientela, o mais interessante era que não cobrava um tostão, pois dizia ter recebido o dom de Deus, e, que, portanto, não podia fazer comércio, senão perdia o seu dom.

Vovó Irene era de uma família muita conhecida por suas benzedeiras, desde os tempos em que os seus antepassados ainda moravam na Itália.

As crianças, nossas amiguinhas moravam na casa ao lado, da casa dos meus avôs, na rua Américo Brasiliense, na Chácara Santo Antonio, em São Paulo. Certo dia, uma amiga das minhas tias Vera Lúcia e Terezinha, a Maria Irides, mais conhecida pelo apelido de Tita, veio de trem de Piracicaba para visitá-las, na capital, para fazer as compras do seu enxoval nas lojas do Mappin no centro de São Paulo, eu e a minha irmã fomos proibidas de brincar no quarto junto com os nossos amigos, pois elas ficavam conversando, diziam sempre, que assunto de gente grande era proibido para crianças.

As nossas brincadeiras ficaram restritas ao quintal em frente da casa, pois no outro quintal, o vovô tinha uma horta, cujo portão era fechado, com um grande cadeado. Ele se precavia de nossas peraltagens, um dia ao brincarmos de casinha, picamos todas as mudas tenras de alface, que vovô ia replantar em um grande canteiro estercado, com estrume de cavalo.

Enquanto, escrevo esse memorial, fecho os meus olhos, e o odor do estrume fresco e úmido dos animais parece impregnar as minhas narinas, pois, além do vovô, o meu pai Celso de Oliveira, sempre nos pedia para pegá-los nos terrenos baldios perto de minha casa, onde havia muitos cavalos e burros pastando, papai tinha duas hortas, e muitas árvores frutíferas, no terreno ao redor da nossa casa, ao lado da casa dos meus avôs, quando eles ainda moravam em Piracicaba,antes da mudança para São Paulo.

Eu, e minha irmã íamos carregando dois samburás feitos de vime para trazê-los cheios de estrume, cada cocô que pegávamos para colocar no samburá era acompanhado por uma careta de nojo de nossa parte!