ACORDEI "MORRIDA"...TAMBÉM
DO AMOROSO ESQUECIMENTO
Eu, agora – que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
(Mário Quintana)
Foi dado o toque de acordar, passados uns dez minutos e como não percebi nenhum movimento no quarto vizinho, levantei, bati na porta e como não obtive resposta, rodei a maçaneta e entrei. E lá estava ela, estirada na cama, de olhinhos fechados. Então eu disse: hei mocinha não ouviu o toque de levantar? – Respondeu-me : não, porque to morrida. Indaguei: é? E por que você ta morrida? – Porque não quero ir pro colégio, não fiz o dever de classe. – E por que não fez - Porque não entendi. E por que você não pediu ajuda? – Porque minha mãe disse que fazer o dever era tarefa minha. Então, por que não pediu ajuda pra mim? – E se mamãe brigasse com você? – Não, ela não brigaria, ela é minha filha e filha não briga com a mamãe. Além do mais vó é para deseducar os netos. Eeeeeeeeeé, quem disse? Sei não, eu ouvi isso de uma vovó na TV. E ai a paciência tava se indo e ela continuava de olhos fechados, foi então que falei que, na qualidade de vovó, tinha poderes de ressuscitá-la, pedi pra ela me dá a mão, ajudei a levantar, abriu os olhos lhe dei um beijo e mandei que ela se apressasse , o que fez alegre e saltitante.
Voltei para o meu quarto deitei, fechei os olhos e não sei por que cargas d’água me senti “morrida” também. Não sei se foi por conta do Chico que cantava numa FM a sua Roda Viva, que eu fiquei cantarolando baixinho... “tem dias que a gente se sente / como que partiu e morreu / a gente estancou de repente / ou foi o mundo então que cresceu / a gente queria ter voz ativa / no nosso destino mudar / mas eis que chega a roda viva / e carrega o destino pra lá.... E como se não bastasse soltaram o Caetano cantando de Peninha “ O que faça da vida sem você”. Não me restou outra alternativa se não desligar o rádio e me agarrar com quem estava mais perto de mim e imagina quem, o rei do pessimismo, ele mesmo Schopenhauer. Abri de forma aleatória o livro e veja como ele define o que é um “gênio”:
O gênio é forma mais elevada desse saber desligado da vontade. As formas inferiores da vida são inteiramente constituídas de vontade sem saber; o homem em geral é principalmente vontade e pouco saber; o gênio é principalmente saber e pouca vontade. “ O gênio consiste nisto, em que a faculdade de saber recebeu um desenvolvimento consideravelmente maior do que o exigido pela vassalagem à vontade. Isso implica numa certa passagem de força para a intelectual. A condição fundamental do gênio é uma predominância anormal da sensibilidade sobre a irritabilidade e o poder reprodutivo. Daí a inimizade entre o gênio e a mulher que representa a reprodução e a sujeição do intelecto à vontade de viver e de fazer viver. As mulheres podem ter grande talento, mas não o gênio, pois permanecem sempre subjetivas, para elas tudo é pessoal e é olhado como um meio de atingir fins pessoais.
Assim sendo, que tiremos nós mulheres o cavalinho da chuva, pois segundo o filósofo, de gênio nós não temos nada, não passamos de subjetivas.
Só que não passou a sensação de “morrida” , pior que eu não tenho nem mais vó para me ressuscitar...