Gaúchos orgulhosos


                                  O passado não reconhece 
                                  o seu  lugar: está sempre presente.
                                            
                                                              Mário Quintana

        Passei esta última semana  na Serra Gaúcha.
       Também tenho direito - e por que não? - de vagabundear por Gramado, Canela, Carlos Barbosa, Garibaldi, Nova Petrópolis, Bento Gonçalves e Caxias do Sul.
        Curti essas bonitas cidades sob uma temperatura que poucas vezes ultrapassou a marca dos 10 graus celsius.
         E tome-lhe agasalhos e mais agasalhos.
        Como nordestino,  senti-me, em alguns momentos, como se estivesse atravessando a Sibéria. Tive que usar pesados capotes, gorros e luvas para varar a noite serrana tomando o bom vinho das famosas adegas de Bento Gonçalves.
        São extravagâncias que aconselho alguém fazer, quando, claro, as algibeiras permitem. 
        Só vale viver  a serra gaúcha sem aquela torturante obrigação de consultar o saldo bancário.

        Como fiquei no centro de Gramado, no hotel Serra Azul, conclui que essa meiga cidade gaúcha, mais do que qualquer outra, é ótima para amar...
        Digo isso porque, entre os visitantes,estavam dezenas de casais em lua-de-mel.
        A cada manhã, lia-se no rosto dele e nos olhos dela uma alegria infinita, ambos envolvidos pela densa e gelada neblina que se espalhava, sutil,  por sobre Gramado.  Oh! O amor é lindo, já se diz a todo momento...
        Graças a colonização ítalo-germânica, a serra gaúcha é um lugar bom pra se morar. Aproveitem-na antes que o Brasil violento, analfabeto, mal-educado, malcriado chegue por lá.

          ***   ***   ***

        Aí dei um pulinho em Porto Alegre.
        Constatei, num abrir e fechar de olhos, que a capital sul-riograndense não é uma cidade bonita. Alguns amigos já me haviam dito. 
        Salve-se sua bela Catedral Metropolitana e o Guaíba, que, num determinado momento, esconde-se por detrás de uma condenável muralha.
        Não chega nem aos pés, por exemplo, da minha Salvador. Tenho repetido, exaustivamente,  que a capital baiana é um presente de Deus, que a abençoa; e dos deuses, que a protegem.
        Mas o que é evidente em cada gaúcho, seja ele porto- alegrense, seja do interior, é o seu arrasador amor pelos seus Maiores.
         Como eles respeitam e cultuam a smemória dos homens e mulheres que fizeram a História do Rio Grande do Sul. 
        Poderia falar, aqui, longamente, sobre o que eu ouvi a respeito dos heróis da Guerra dos farrapos (1835-1845); e sobre os políticos gaúchos, antigos e contemporâneos, com destaque para o Dr. Getúlio Vargas, cujo busto, recebe  quem visita o Palácio Piratini, quartel-general de memoráveis lutas em defesa da Democracia. Lembram-se do Dr. Brizola? 
       Quero, porém, fazer uma referência especial à Casa de Cultura Mário Quintana. 
        Os gaúchos transformaram o majestoso hotel Majestic, na rua da Praia, em um santuário onde está guardado, com carinho e respeito, todo o acervo deixado pelo grande poeta dos pampas.
        Quando visitava o templo do Quintana, lembrei-me do romancista Jorge Amado. Que pena! Boa parte dos baianos ainda não se deu conta da importância do seu maior escritor.
        Soube que todo o acervo do autor de Gabriela estaria correndo o risco de deixar Salvador porque, até agora, as autoridades da Boa Terra lhe não dispensaram a atenção devida. 
          Quando estive em Belo Horizonte, deixei-me fotografar ao lado das estátuas, tamanho normal, de Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Otto Lara Resende. 
          São seus conterrâneos homenageando aqueles que, com sua inteligência e sua pena, dignificaram a terra natal. 
        Em Porto Alegre, em uma de suas praças mais movimentadas, está a estátua de Quintana,  o vate querido do Rio Grande. 
        Lembrou Coelho Neto que a "Grécia no livro e no mármore conservava, para transmiti-la à Posteridade, a obra e a imagem dos criadores de sua glória..."
        Mirem-se, pois, os baianos, nos exemplos de Minas e do Rio Grande do Sul e ponham, numa praça de Salvador, uma estátua de Jorge Amado, em tamanho natural. Ele merece assim ser lembrado. 
          Os gaúchos são, sim orgulhosos.
          Orgulhosos da sua História e dos que a escreveram.
          Outra coisa: em diversos pontos de Porto Alegre é possível ver tremulando a bandeira do Estado pampeiro.
        Isso é cidadania. O resto é folclore barato...
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 18/09/2008
Reeditado em 11/01/2009
Código do texto: T1184691