O GRAVETO

Era uma vez um garoto, que só escrevia sobre aquilo que gostava.

Ele procurava um lugar para escrever. Gostava de lápis, de papel, de letras, de palavras.

Juntava as letras e elas viravam palavras. Juntava palavras e elas se transformavam em frases. Juntava as frases e elas se transformavam em textos.

Personagens criavam vida, vidas que transformavam vidas, que emocionavam, que apavoravam, que irritavam e que despertavam nas pessoas paixão, ódio, amor.

Era uma vez um graveto, que queria virar um lápis, mas virou um palito de fósforo. Que ao ver o que não queria ver, com ódio de não ter se tornado o que gostaria, ele perpetuou sua missão e cumpriu o seu papel.

O menino, que virou garoto e que virou escritor. Morreu na fogueira, com o fogo ateado em seus textos pela mão do inquisidor. Mas o inquisidor, que também fora um garoto, que também quisera ser escritor, mas não foi, guardou o lápis consigo, imaginando ser o que não era. E escondeu os fósforos, para não se lembrar do que realmente era.

Com esse lápis ele passou a escrever. E seus textos passaram a ser lidos, pois todos sabiam que além do lápis, em sua gaveta, jazia certo graveto, que queria ser lápis também...

Devemos ser o que somos e não mascarar o que somos pelo sonho do que gostaríamos de ter sido.

Se for lápis, escreva. Se for fósforo, ateie fogo. Mas não se esconda na gaveta, deixe isso bem claro...