Aos esquecidos

Eu ouço calada as notícias dessa minha sociedade. Me calo, pois perdi a fala, quase que perdi todos os meus sentidos diante da falta de sentido na vida do outro.

Como me estranha e me perturba essa, digamos, naturalidade com que lidam com essas tragédias. São pais esquartejando o corpo do filho, adultos brincando com a vida de outro adulto ou atirando crianças pela janela. Oras, não é aceitável nem convencional, tampouco consigo me acostumar com notícias como estas.

Mas as pessoas assistem apáticas a tudo isso, lêem no jornal, assistem em rede nacional, mas logo passa essa sensação incômoda que fica em nós, afinal depois vem a novela para nos tirar da “dura” realidade. As notícias ás vezes se tornam tema de debate jurídico numa sala de aula, mas logo também vira piadinha, tem sempre aquele que não agüenta muito tempo encará-la de frente.

E dentro de mim esse buraco vai crescendo, cheio de espaços vazios (isso é possível?), só minha inabalável fé e minha esperança conseguem preenchê-lo de novo.

Não quero rir da desgraça que não é minha, não quero desprezar essa dor latente só porque ela não bate em mim. Eu quero, ao menos, sentir muito com toda minha força, pensar na tristeza daquele que eu desconheço... pelo menos por um tempo, porque todos sabemos que daqui um tempo – pouco até – eu também esquecerei. Mas hoje não, hoje quero escrever esse texto e conceder meu acalento e minha oração para um qualquer esquecido...

E rezo também para que a vida nunca me tire esse coração para colocar uma pedra no lugar, como já fez com tantos outros. Meu coração, mesmo dilacerado como fica algumas vezes, ele não apenas bate, ele sente! E como sente!