Infinitas talvez

                  Rosa Pena

 

Minhas mil e uma noites?Eu e o meu travesseiro gênio.
Dentro dele existia um túnel que unia o que eu vivia e o que eu desejava em demasia viver. Quase todas as noites eu atravessava o mágico corredor com todas as gamas, alfas e betas que um azul pode ter.

Viajava totalmente despida e me esbaldava no inalcançável. Invariavelmente engravidava de ilusões. Na manhã seguinte retornava ao palpável pó de café e enquanto esperava as torradas pularem para os braços da geleia, ficava imaginando quantas luas precisariam para que nascesse meu novo sonho colorido. Eu o amamentaria muitíssimo, até que ele ficasse madurado de tão sonhado e partisse incolor sem vontade alguma de passar para o lado que eu vivia.

Em algumas noites o danado do túnel se fechava, geralmente quando percebia que o lado desejado ultrapassaria o vivido. Não queria que eu me emprenhasse de ilusões, receava que eu não visse mais luas, que dirá contá-las. Cauteloso temia que meu leite secasse e que se tornasse impossível amamentar novos filhos de sonhos nos tons da aquarela. Ele sempre se achou o sábio.

Sábio só até conhecer você, que derruba túneis num piscar de olhos.Nossas mil e duas noites? São pouquíssimas .
Que tal tentarmos 2006?Ainda assim serão poucas! Infinitas talvez.

Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 03/03/2006
Reeditado em 04/01/2016
Código do texto: T118198
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