OS RELACIONAMENTOS

Desde muito pequenos nós aprendemos a amar nosso eu. Nascemos sós, morremos com todos nossos medos, mas temos um fim solitário. Algumas vezes me pego a pensar sobre a individualidade de cada um e verifico como é grande o poder de Deus ao nos reservar essa exclusividade, porque além de nos dar o privilégio de termos nossos pensamentos só para nós, sem interferências, também nos lega a perecibilidade do corpo, sendo que alguns de nós sofremos males físicos com maior constância e por vezes nosso sofrimento causa dor a quem está perto de nós. Quem nos ama até que deseja compartilhar nossa dor, mas é impossível, pois aquele martírio é exclusivo e inalienável.

Essa exclusividade é que muitas vezes nos impede de sermos amplamente felizes nos relacionamentos, pois alguns de nós não sabemos como lidar com ela quando cotejada ou refletida na vida do outro que se aproxima para dividir espaços e dividir aspirações que até então eram exclusivas e só dependiam da nossa decisão. Daí a razão de muitas uniões não terem o êxito desejado no início, porque as pessoas que fizeram o enlace não souberam se desvincular dessa necessidade básica de compartilhar. Aliás, eu, particularmente, considero essa fórmula humana de dividir e compartilhar uma das virtudes mais eficientes no mundo dos seres inteligentes, posto que é aplicada em várias seguimentos da vida social, servindo para apaziguar conflitos das diversas espécies, pois quando se divide algo que está em litígio a tendência é haver o equilíbrio entre as partes contendoras.

Essa exegese deve ser a vertente de quem vive em sociedade. Mas, como o relacionamento entre um casal é uma assertiva muita importante no mundo social, pois gera a origem de muitos outros gêneros de convivência, passo a explorá-la nesta minha reflexão como elemento central do conglomerado de relacionamentos, primeiro porque é entre eles que surge a família, gerando a educação dos filhos, nascendo, por conseguinte, o caráter de cada um dos seres humanos que freqüentam um grupo social.

Assim, temos de ter em mente que as pessoas são falíveis em função da sua individualidade. Esse é o primeiro aspecto a ser observado num relacionamento a dois. Para que essa individualidade seja respeitada também há um princípio sine qua non no relacionamento; não existe realidade absoluta, pois essa relatividade é diretamente proporcional à posição desdobrada que o tema se apresentará, considerando que são duas pessoas pensando sobre um mesmo fato. É certo que haverá a ponderação e o argumento, que se sobressaem em alguns casos; mas noutros não!. Se o ponto de vista, mesmo embasado, não for suficiente para dirimir a controvérsia, a única saída é a resignação. Esta última é a mais difícil pois tem de vencer a barreira da individualidade que está impregnada como um obstáculo quase intransponível travado pelo nosso íntimo egocentrista, mas não existe outra saída a não ser o recuo estratégico (tática de guerra – no bom sentido).

No entanto, se nenhuma dessas alternativas for suficiente para a permanência da convivência mútua, emprega-se a opção radical: a ruptura. Evidente que a ruptura é a saída mais dolorosa e que requer muito esforço e tempo para que seja totalmente dissipada. Nesse caso existem muitas fórmulas preventivas de relacionamentos que impedem a chegada desses relacionamentos, desde que seja uma filosofia de vida. Cito exemplo de uma mensagem que copiei em meu arquivo há algum tempo, acredito que seja do site 'momento de reflexão', no entanto, não tenho certeza. A autora dá uma lição de como precaver-se de relacionamentos indesejados, mostrando uma linha de procedimento que se seguido evitará o desgaste de uma relação. Vejamos:

“Sempre acho que namoro, casamento, romance tem começo, meio e fim. Como tudo na vida. Detesto quando escuto aquela conversa: 'Ah,terminei o namoro...' 'Nossa, quanto tempo?' 'Cinco anos... Mas não deu certo...acabou' 'É não deu...' Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou. E o bom da vida, é que você pode ter vários amores. Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam. Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro? E não temos esta coisa completa. Às vezes ele é fiel, mas não é bom de cama. Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel. Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador. Às vezes ela é malhada, mas não é sensível. Tudo, nós não temos. Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele. Pele é um bicho traiçoeiro. Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia. E às vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona... Acho que o beijo é importante...e se o beijo bate...se joga... senão bate...mais um Martin, por favor...e vá dar uma volta. Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra. O outro tem o direito de não te querer. Não lute, não ligue, não dê piti. Se a pessoa tá com dúvida, problema dela, cabe a você esperar ou não. Existe gente que precisa da ausência para querer a presença. O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta. Nada de drama! Que graça tem alguém do seu lado sob chantagem, gravidez, dinheiro, recessão de família? O legal é alguém que está com você por você. E vice versa. Não fique com alguém por dó também. Ou por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento. Tem gente que pula de um romance para o outro. Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia? Gostar dói! Você muitas vezes vai ter raiva, ciúmes, ódio, frustração. Faz parte. Você namora um outro ser, um outro mundo e um outro universo. E nem sempre as coisas saem como você quer... A pior coisa é gente que tem medo de se envolver. Se alguém vier com este papo, corra, afinal, você não é terapeuta. Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível. Na vida e no amor, não temos garantias. E nem todo sexo bom é para namorar. Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar. Nem todo beijo é para romancear. Nem todo sexo bom é para descartar... Ou se apaixonar... Ou se culpar. Enfim... quem disse que ser adulto é fácil?”

Veja que a articulista é bem liberal no seu ponto de vista. Ser liberal não é o mesmo que libertina. Ela enfatiza uma procura bem madura no relacionamento, pois quer ser respeitada na sua individualidade, no entanto, é consciente de que deverá somar-se a outra pessoa e não se completar. Seu raciocínio é prático e próprio da relacionamento entre duas pessoas, pois estes seres, quando se encontram já são completos, ou seja, já estão formados na sua essência de caráter – ou melhor – já são os chamados 'cabeças feitas'. Logo, não irão ser completadas com o relacionamento, mas sim se somarão em suas aspirações e em suas expectativas para formarem, ou construírem novos horizontes, que se constituem na soma de uma e de outra vontade.

Outro ponto que ela aborda que julgo de singular importância é o fato da pessoa romper um relacionamento e dizer que não deu certo. É um erro...Deu certo sim, mas só que enquanto durou. Esse exemplo serve para os casais que se separam, ficando aquele resquício de rancor e ódio que acabam repercutindo na formação do caráter das crianças (frutos do casal). Ora, o casal se esquece dos momentos bons passados juntos, que, aliás, se constituem - em boa parte dos casos - numa jornada muito maior do que os momentos de brigas e desencontros. Essa questão deve ser encarada como aquelas amizades que tivemos na nossa época da juventude – sempre marcadas por brigas – mas quando crescemos e ficamos adultos, reparamos que temos apreço por aquelas pessoas. Não é bom para nós colhermos em nosso peito sentimentos negativos que fazem mal para nosso corpo físico. É doloroso no início, mas pode ser muito pior se não tivermos um pouco de resignação, pois ninguém muda algo unilateralmente, quando essa mudança exige conceito bilateral.

Enfim, o tema é complexo e se fôssemos abordar em toda a amplitude todas as situações, haveria conteúdo para um livro. Não tenho essa pretensão. Só quero contribuir para que as pessoas continuem se amando na sua individualidade, que sejam mais 'você mesmo' e não fique correndo atrás de amores que não retribuem seu carinho. A melhor coisa que há num relacionamento e que traz a paz na relação é a certeza de que há sintonia de sentimentos entre o casal. Essa reciprocidade é capaz de ruir as pedras do caminho. Os problemas surgem, mas se desfazem como gelo quando fora do seu ambiente provisório, já que seu estado natural é a água e que apenas um ambiente hostil é que o faz tornar-se gelo.

Assim, você que sofre por um amor perdido. Sai dessa masmorra. Conheça 'você mesmo' e verifique que és uma pessoa especial. Alguém, um dia, lhe dirá isso com todas as letras. Esse é o desejo de um escritor que prima por sua felicidade.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 16/09/2008
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