A PEDRA DE EDNA

Pedrinha tinha cinco filhos e dois netos, era viúva e contava 52 anos. Pedrinha era quase bela, não fossem as marcas de uma vida nem sempre bem vivida. Morena clara, olhos e cabelos negros, estatura média. Havia nela uma vivacidade que dor alguma fez sucumbir. E também mistérios que a dor muitas vezes realça.

Não gostava de seu nome. Considerava-o “uma pedra em seu caminho”. Havia percorrido várias instituições com o objetivo de remover esta pedra de sua vida. E finalmente encontrou a Defensoria Pública. Lá, os advogados lhe explicaram que uma mudança de seu nome em seu documento implicaria em também muda-lo nos documentos de seus descendentes, e isto demandaria muito tempo e trabalho.

Inconformada, insistia, e diariamente entrava na fila para pegar sua senha de atendimento, com a esperança de ser encaminhada para um outro advogado que se posicionasse a seu favor. Tornou-se conhecida na instituição de atendimento jurídico gratuito, mas todos lhe repetiam o mesmo argumento e não aceitavam seu caso. Na verdade não o consideravam importante. Até, que um dia, diante da revolta de Pedrinha, que estava a ponto de avançar em algum funcionário, a encaminharam ao Setor de Atendimento Psicológico.

Entrou sob protesto, afirmando não ser louca, só queria mudar seu nome. A atendi calmamente, ouvi suas queixas e fiz a pergunta que até então não lhe haviam feito: para que nome mudaria. Ao ouvir tal pergunta seus olhos brilharam e imediatamente respondeu: Edna. Concordei que era um nome interessante, mas ainda lhe perguntei: porque Edna. E então ela me pediu uma caneta e um papel. Escreveu seu nome Pedrinha e explicou que seria muito fácil a mudança. Bastava retirar algumas letras de Pedrinha e obtinha-se o nome Edna. Retirava-se o "p", o "r", o "i" e o "h", e pronto, a pedra de sua vida estaria para sempre removida. Portanto não entendia porque os advogados complicavam tanto as coisas.

Rocio Novaes
Enviado por Rocio Novaes em 17/04/2005
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