Sem Escrúpulos

Sem Escrúpulos

Todos sabem que crianças têm as mais diversas e estranhas aspirações do mundo. Ser astronauta, caçador de zumbis, campeão de luta de videogame, ser modelo... Enfim, estranhas, mas normais. Analisando as aspirações de meus sobrinhos, descobri que minha família não conhece a palavra 'preconceito'. Começarei pelos mais velhos!

Meu cunhado Nelson trabalhava de caminhoneiro quando meu sobrinho (Felipe) tinha por volta de cinco anos. Ele era o protótipo perfeito de motorista: estatura média, barba mal feita, gordo e um humor variando entre arrogante e divertido. Um belo dia, ouvi Felipe dizer que o sonho dele era ser gordo e caminhoneiro como o pai. Se não o conhecesse, eu não acreditaria. Mas ele cresceu um tantinho, o pai saiu dessa profissão e Felipe teve de desistir dos seus sonhos, encontrando consolo nos filmes de animação. E assim ele descobriu seu segundo sonho: ser o próximo rei leão. Ele corria de quatro pelas ruas, parando na porta da loja de minha mãe e rugindo. Dava um trabalho imenso para minha irmã mais velha, que saía correndo com o chinelo na mão para lá e para cá. Felizmente, ele já está com 13 anos e pensando em ser veterinário.

Agora, Álvaro é o outro sobrinho a apresentar. Um loirinho magricela que, com apenas 4 anos de idade, tentava acertar os aviões da Esquadrilha da Fumaça com pedras de cascalho e aspirava ser lixeiro. LIXEIRO! Quando passava o caminhão laranja, com os faróis piscando e os homens pulavam da lateral do veículo... Os olhos dele brilhavam! E não tinha Cristo que segurasse o menino. Corria de dentro de casa, berrando desesperado: lixeiro, lixeiro, lixeiro! A paisagem mais linda do mundo!

Apenas o lixeiro não bastava. O pai é o herói de todo filho e, claro, Álvaro também queria ser como o pai dele:

_Mica, quando eu crescer vou ser careca, médico e pastor! - (eles são evangélicos).

_Careca?

_Uhum. É pra ficar bonito.

Vai entender... Hoje, com sete anos, o sonho dele é ser jogador de futebol e pastor aos fins de semana. Vai para a igreja com terno e gravata, bíblia debaixo do braço e dizendo para quem quiser ouvir: "Hoje eu vou pregar! Vou cuspir foooogo!". Em desenvolvimento tem o Marco Antônio, de apenas dois anos de idade. Fico imaginando, quando ele souber que um dia vai ter que trabalhar, qual será a aspiração dele?!