Depois dos oitenta
Não consigo imaginar o que eu vou fazer com oitenta anos. Tenho tantas coisas para fazer antes, que não posso prever as conseqüências que terão no meu futuro, tão distante.
Todos querem ter saúde em primeiro lugar, nessa idade, mais do que em outras. Ficar velho é bom com saúde, com qualidade. Então fica mais difícil desejar outras coisas, ainda mais coisas ousadas. As pessoas com essa idade ou próxima, que conheço, gostam também de assistir televisão, ficar com a família, desde que a família não incomode. Conversar com amigos da mesma idade, fazer passeios, assistir missa ou outros cultos religiosos.
Isso é bem comum, a proximidade com a fé, com a religião. Acho que para procurar conforto e para vencer o medo da morte. É difícil se ver perto do fim, com possibilidade de ficar doente e não conseguindo nem sequer ir ao banheiro sozinho. Embora isso possa acontecer em qualquer idade.
Acredito que poucas pessoas estão preparadas para a morte natural, como fim de possibilidades do corpo. Como fim de um tempo por aqui. Ainda mais com tanta gente bacana por perto, com netos, com novas histórias para participar, com tantas coisas que surgem a cada momento no mundo.
Nessa idade ninguém quer parar o mundo e descer. Coisa que a gente vive dizendo quando é mais novo.
Com oitenta, eu penso em viajar, ler muito, fazer cursos, ginástica para terceira idade, ir ao cinema no meio da tarde, beber vinho no almoço e no jantar. Isso se não der problemas com os remédios. Isso se eu puder sair de casa, isso se eu estiver viva. Vou planejar viver a cada dia, sem pular etapas.
Mas tem uma senhora, a minha mãe, fez oitenta anos este mês e me superou em todas as expectativas. Simplesmente porque voltou a estudar. Está freqüentando um curso para terceira idade, cheia de planos e novidades, fazendo os temas, com material novo na pasta. Isso tudo a noite, três vezes por semana.
O que ela mais quer? Simplesmente aproveitar a vida que tem.