QUANDO EU CRESCER QUERO ESCREVER QUE NEM ELA

Sempre que leio um texto da MARÍLIA L. PAIXÃO sinto inveja e não tenho pejo de confessar. A inveja prende-se à sua autenticidade, do mundaréu de palavras que jorram de dentro de si e como ela as manipula a seu bel prazer, criando frases de efeito e que de tão bem colocadas produzem uma maneira graciosa de dizer o que pensa.

E, como uma coisa puxa outra, lembrei-me de Eurípedes, que disse: “Detesto o sábio que não é sábio por si só”. Portanto, Eurípedes não detesta Marília. Pra mim, ela é sábia por si só. Preciso explicar quem foi Eurípedes: um antigo autor de peças teatrais, inclusive escreveu “ As Troianas”, que trata das mulheres da cidade de Tróia, peça essa escrita na época em que as mulheres não eram consideradas como membros da sociedade.

Pois é, como não me sinto sábia por mim só, fato sobejamente comprovado pelo uso e abuso das citações nas quais eu me estribo só me resta dizer: pára o mundo que eu quero descer, mas antes vou dar um pulinho ali na Índia, começando pela cidade santa de Banares, onde, para purificar a alma, pretendo mergulhar no rio Ganges e se possível recolher a água sagrada para, na volta, aspergir a brava gente brasileira. Em seguida, rumarei até as margens do rio Jamma, a 3km aproximadamente da cidade de Agra, onde contemplarei o mausoléu de Taj Mahal, construído pelo imperdor Xá Jahan , em homenagem a sua esposa Mumtz Mahal . E só em pensar que o monumental mausoléu foi construído em homenagem a uma mulher, fico arrepiada, viu Marília?

Prosseguindo o meu périplo, alcançarei Nova Deli; quero ver de perto a coluna de ferro Meha Rauli, erguida no século V em memória do rei Chandra. Com esse meu didatismo pedante, explico que esse sólido pilar de ferro forjado com topo decorado, eleva-se a cerca de 6,50m e tem um diâmetro médio de 50cm. É o que atesta a perícia dos seus construtores. A sua celebridade advém do fato de não ter enferrujado, apesar de tantos séculos de exposição ao vento e à chuva. Aqui abro um parêntese para dizer que, se houver algum estudo cientifico que revele por que o metal não enferruja, trarei para a indústria automobilística brasileira.

E, como sou versada nas línguas híndi, bengali e marati, não terei problemas em apurar os meus conhecimentos; me debruçarei sobre a antiga epopéia indu Mahabharata, onde destaca-se um episódio do Bhagavad Gità ou seja: “A Sublime Canção” ou ainda “Sublime Canção da Imortalidade” ou mesmo a “Mensagem do Mestre”, uma das obras mais importantes que existem no mundo. Esclarecendo que a filosofia nele exposta é um conjunto harmônico das doutrinas de Patanjali, Kapila e dos Vedas.

Contudo, depois desse banho de sabedoria, só me resta apelar para os deuses e esperar que eu saia de lá da Índia sã e salva: sem lepra, bócio, cólera, disenteria, elefantíase, etc.

Agora me diga, Marília, tem jeito pra mim, tem? Vou continuar dizendo que a inveja persiste e só me resta esperar que, quando eu crescer, escrever que nem você. Quem viver verá.

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 14/09/2008
Reeditado em 14/09/2008
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