meus avós
eu tive quatro avós
dois avôs e duas avós
ativos
ao mesmo tempo
meu avô por parte de pai, José, me sentava numa poltrona que até hoje eu acho que cabia o mundo inteiro e ficava rodando o cigarro aceso na boca pra eu ver, sem se queimar
minha avó por parte de pai, Dinair, morava sozinha no nosso siitio, onde não tinha nem luz
comia pimenta pura com cachaça, usava umas pulseiras no braço, finas, que deviam ser umas 30
me contava histórias toda noite sobre Mula-sem-Cabeça, Lobisomem, Mão Pelada, essas coisas
e eu ficava fascinado
meu avô por parte de mãe, João, era apaixonado por mim
me pegava na escola, todo dia, soltava pipa comigo, me fez virar casaca e torcer pelo Fluminense, me dava uma caixa de lápis de cor toda semana, de 36 ou 48 cores, me colocava para ajudar a limpar sua arma, uma pistola 45 e ouvia as músicas que eu fazia como se fossem obras primas.
aos 13 anos descobri sozinho e sem quere,r que ele não era meu avô verdadeiro, quando eu achei a certidão de casamento da minha avó, que tinha ficado viuva e casado outra vez
fiquei olhando aquilo e me senti estranho porque nada tinha mudado em relação a ele
meu avô era ele, João
minha avó por parte de mãe, Catarina, que segundo ela a sua Catarina era descendente da Catarina da Russia, foi quem viveu mais comigo
contava histórias fantáticas como a de um primo que era capitão de um grande barco e passou a vida inteira jurando que tinha visto sereias
conheceu meus filhos e virou Biza
todos nós passamos a chama-la assim
minha filha Mariana, pequenininha, pegava uma bala, tirava o papel e jogava no chão e lá vinha ela, a Biza, atras, catando o papel, o dia inteiro
me oferecia café de 10 em 10 minutos e se nós chegassemos muito tarde e acendessemos a luz da casa, ela levantava, lavava o rosto, escovava os dentes, achando que já tinha amanhecido
como os passarinhos