PICLES

Confesso que certas pessoas muitas vezes me tiram do sério, com seus comentários, idéias ou questionamentos. Caetano era um senhor imprevisível em todos os sentidos. Muito querido pelos vizinhos e amigos pela sua sabedoria. Tudo ele sabia. Era um leitor voraz de revistas, tais como: Seleção, Superinteressante, Veja. Também lia jornais, livros. Era um cinéfilo apaixonado. Guardava na sua memória nomes de filmes, atrizes e atores dos cinemas americanos, italianos, franceses, e de tantos outros lugares. Acontecimentos históricos importantes eram as meninas dos seus olhos, falava sempre com conhecimento de causa.

Muitas crianças não “plugadas” na Internet vinham à sua casa fazer pesquisa para as disciplinas escolares confiando nas suas respostas sempre corretas. O homem gostava de falar até pelos cotovelos! Para a sua família Caetano vivia “vida de rei”. Aposentado há muitos anos dizia que havia colocado o seu burro na sombra, isto é, não queria fazer mais nada que o levasse a derramar uma gota de suor. Já a sua esposa trabalhava pelos dois, cozinheira de mão cheia fazia sempre o que Caetano sugeria como receitas de pratos salgados e doces.

_Iracema, estou aqui sentado, com uma vontade de comer aquele rocambole de batata, recheado, com muito molho de tomate natural, que só você sabe fazer.

E, pasmem caros leitores, na hora do almoço, o tal do prato pedido estava fumegando a mesa para o regalo da família, e especialmente de Caetano.

Todo sábado o homem levantava cedo para um programa, e mesmo, com chuva ou sol, ele não deixava de fazê-lo. Pegava uma sacola e ia para o varejão de hortifrutigranjeiros perto da sua casa. Lá ia de banca em banca apertando as mãos dos amigos. Quando alguma banca estava com muitos compradores, o homem parava e ajudava o comerciante, como não cobrava nada pelo serviço ganhava hortaliças e legumes para abastecer a geladeira durante a semana.

Certa vez um desses comerciantes havia colhido uma supersafra de legumes e vegetais, então resolveu, presentear o Caetano com cenouras, nabos, couves-flores, pepinos e outras leguminosas. Quando chegou em casa foi dando a boa notícia para Iracema, sugerindo o seguinte:

_Você poderia fazer alguns vidros de picles para comermos com a comida?

Iracema naquele dia não estava muito bem, pois suas pernas estavam doloridas, portanto, resolveu pedir para o sabichão ajudá-la na limpeza dos legumes e vegetais. Foi então, que ela recebeu como resposta, uma palavra não muito ouvida pelos falantes e ouvintes da rica Língua Portuguesa.

_Sabe Iracema, releve o que falei, pois são somente: “conjecturas”!

E, com essa saída, Caetano escapou mais uma vez de uma tarefa, para ele muito monótona, pois não teria com quem conversar.