PRISÃO PERPÉTUA

“Nasci livre. Tinha uma vida de alegria, pois convivia em liberdade com meus vários irmãos. Por um momento, estava no lugar errado e na hora errada e quando dei por mim, estava preso. Prisão perpétua; esta foi minha sentença. O que fiz para merecer tamanho castigo? Alguns diziam que era devido à minha beleza, outros, porém, afirmavam que minha saga foi em virtude das minhas cantigas.

Quão cruéis são meus algozes! Sou inocente e absolutamente inofensivo. Vi, através das grades, companheiros em liberdade que passavam ao largo, despercebidos.

Vi cada nascer e pôr-do-sol, sintetizando meu martírio, aos olhos displicentes daqueles que adoravam ver-me preso. Perguntava, todos os dias aos gritos de meus pulmões: o que fiz para merecer tamanho castigo? Mas isso era, para eles, uma sinfonia, como o uivo do vento. Pensavam, talvez, que eu estava alegre. Não!!! A liberdade era minha alegria!

No último nascer do sol atrás das grades, antes que chegasse a noite enluarada, aconteceu minha perpétua liberdade. Não estava mais condenado à prisão sem fim. Meu corpinho ficou jogado, pelos meus feitores, em um terreno baldio qualquer. No entanto, meu espírito voa e canta a liberdade que me foi arrancada, sem ter cometido dolo algum contra ninguém.

Canto, livremente, sem temor, pois agora não existe mais prisão para mim.

Sou livre... livre... livre...”

Carta deixada no cochinho de uma gaiola feita de madeira de lei.