RESGATE NA BR

Já passavam das 11 da noite. Jõao, assim como outros 42 estudantes universitários, estavam regressando para casa de ônibus. Todos muito cansados, mas mesmo assim, não cochilavam nos seus assentos.

O motorista não permitia. Corria demasiado, e assustava todos com suas manobras arriscadas no tráfico.

-Ô motô.. vamos com calma aí! Queremos chegar vivos em casa amigo!!

-Tsc..

O motorista parecia não escutar as súplicas de João e seus colegas. Se assemelhava a um possesso. Não tirava o pé do acelerador, e não sabia o que era freio ou sinalização.

Os alunos estavam extremamente apreensivos. João se desesperava. Sentia qualquer coisa, qualquer mal pressentimento, que aquela atitude do motorista acabaria em tragédia.

Não estava errado. Estavam em uma BR movimentada. Não havia universidades na sua cidade, ele estudava na cidade vizinha. E então, numa imprudência banal do motorista, ocorreu a desgraça.

Ele tinha tentado ultrapassar um caminhão. Mas, na outra faixa da pista, havia outro caminhão. O choque foi de frente, e, fatal.

Quando ocorreu o choque, o ônibus em alta velocidade, parou bruscamente. Os passageiros voaram pelo ar, se chocaram com a já estraçalhada carroceria do ônibus.

Muitos morreram perfurados. O desgraçado motorista, morreu no mesmo instante em que os faróis do caminhão o ofuscaram. O volante do ônibus bateu em seu peito com tanta força que no mesmo instante parou de funcionar.

Alguns alunos voaram pelas janelas estraçalhadas e caíram na pista. Outros, bateram violetamente com a cabeça no assento, e morreram por traumatismo craniano.

João havia voado pela janela. Não estava morto, mas em compesação, não se sentia vivo. Suas pernas não lhe obedeciam. Não conseguia ver nada claramente. Suas mãos tremiam. Sentia-se molhado de sangue, e um frio que nunca antes havia sentido, se apoderava do seu corpo.

Ele estava morrendo. Mas não aceitava isso. Tinha medo de morrer, não queria morrer, não podia morrer.

Ainda havia muitos sonhos por realizar, muitas pessoas para se conhecer, muita felicidade para se experimentar.

Sua mãe e seu pai o esperavam em casa, com a mesa posta. Sempre que ele retornava da faculdade era assim, sua famíla sempre fazia as refeições unida. Como toda família deveria fazer.

Sua namorada também estava no ônibus. Quando lembrou-se disso abriu os olhos. Não podia desistir da vida assim. Ia lutar.

Debilmente, levantou-se e cambaleando, foi em direção ao ônibus. Sua figura era lastimável. Sangrava abundantemente. Tinha as pernas em parte dilaceradas. Era impossível andar naquele estado. Mas, a força de viver, lhe deu forças.

Tirava todos que encontrava do ônibus. Alguns motoristas que se chegaram no local do acidente chamaram socorro. Socorro esse que ainda demoraria meia hora. Os motoristas também mandaram João parar com aquela loucura, ele deveria ficar quieto ou acabaria passando de semi-morto para defunto.

Mas João parecia que não escutava. Continuava tirando mais e mais pessoas e corpos de dentro do ônibus. Passaram-se 15, 20, 25 minutos.

A luta de João era por sua namorada que ainda estava no ônibus. Tentava sempre acha-la, mas cada tentativa era frustrada. E depois de 25 minutos, havia tirado todos do ônibus. Restava apenas Sophia, sua namorada, que jazia no fundo do ônibus.

Se aproximou dela. Por mais incrivel que pudesse ser, ela estava apenas dormindo. Não apresentava nenhum só arranhão. Embaixo de seu braço, a Biblía que ela carregava consigo para onde quer que fosse.

Quando João se aproximou, ela acordou. Quando os dois olhares se cruzaram, João caiu. Ele tinha se esforçado demais, perdido muito sangue. Dessa vez, ele ia morrer.

Segurou na mão de Sophia. Essa apenas olhava, pasma e sem reação. João começou a lacrimejar. Sophia, já tinha perecebido que ele não iria sobreviver. Já estava respirando com tremenda dificuldade, e já estava mortalmente gelado.

Tinha salvo a todos, menos a si mesmo. Sophia lhe beijou. E esse último instante, foi de mais valia para ele do que tudo que tinha feito em sua vida até agora. Era a última lembrança que sua alma ia carregar. A síntese de toda sua vida.

Jõao morreu feliz. No fim do trigésimo minuto, fechou os olhos e deu um ultimo suspiro.

Sophia carregou seu corpo para fora do ônibus. E então, escutou o som das ambulâncias que finalmente chegavam...

O Fantasma Silva
Enviado por O Fantasma Silva em 13/09/2008
Reeditado em 13/09/2008
Código do texto: T1176488
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