ESMOLA POUCA É BOBAGEM

Sabemos que em meados do século passado a mendicância devia ser menor_ sem esquecer o contexto histórico, sociológico e populacional_, do que nesses dias de globalização. Pesquisadores sempre alertaram para a distribuição de renda no Brasil, e no mundo, mas parece que a indiferença da grande maioria da população aos números das pesquisas aumentou com o passar das décadas.

Um número crescente de desempregados se aglomera pelas ruas das cidades brasileiras, são flanelinhas, catadores de recicláveis, vendedores de doces e quinquilharias trabalhando ou pedindo nos semáforos, enfim, seres humanos vivendo de subempregos e esmolas.

Nas ruas circunvizinhas a rodoviária intermunicipal e municipal da minha cidade, os moradores, dia e noite são molestados pelos pedintes, pois os mesmos não conhecem as barreiras do tempo.

Sim! É isso mesmo, para eles os segundos, minutos e horas não são empecilhos para o aperto, seguido do barulho, quase sempre estridente da campainha ou das palmas nas portas das residências.

Após um dia inteiro de ir e vir atendendo a campainha, Carolina já havia feito o último sanduíche, para um senhor maltrapilho, terminando assim, com os pães e os frios que sua mãe comprara logo pela manhã, antes de ir trabalhar.

Quando a sua mãe chegou da jornada de trabalho, Carolina foi logo contando do seu primeiro dia de férias, sugerindo a sua maratona, atendendo as pessoas sempre pedindo coisas.

_E acredite mãe, algumas chegam às raias da extravagância. Uma jovem pediu um quilo de carne moída para a sua mãe desdentada, pois a mesma estava acamada devido à doença da anestesia.

_Anestesia? Mas como isso aconteceu com a sua mãe? Ela foi operada?

_Não! O dotô falo que é uns tar de grobo branco que aumentaro no sangue da pobrezinha.

Carolina precisou engolir a gargalhada, insuflada no peito, a qual teimava em querer romper trovejando na sua boca. Como não tinha a carne moída, para ajudar a curar a anemia da mãe da pedinte foi logo levando um dinheiro.

_Logo perto do almoço veio um senhor embriagado perguntando, se já tinha o tal do “oscardápio”. Como não o entendia mamãe, fui até o portão, dessa maneira, pude compreender de fato o que ele queria saber.

Ele gesticulava e falava com a boca mole: Qual é o oscardápio do dia? Quando contei do meu primeiro dia de férias, e que a minha refeição seria de um macarrão instantâneo, ele foi logo saindo com essa tirada.

_Bom moça é melhor deixa prá lá, vou voltar ali na sua vizinha, aquela da casa amarela é que lá tem tutu de feijão, e bisteca de porco.

_Isso tudo aconteceu mãe, durante um breve período de tempo. Ainda não estou computando no que lhe estou contando, sobre os pedintes dos passes de ônibus, que precisavam se locomover de um bairro para o outro, sempre com mentiras ou desculpas esfarrapadas. Cruzes!

_Mas, teve um senhor idoso impaciente e malcriado. Pois bem, esse me tirou do sério. O dito cujo esbravejava no portão pedindo um litro de leite. Pedi para ele se acalmar e esperar. Entrei e peguei um leite longa vida, daquele desnatado, sabe, aquele, que você compra para o papai.

Bem! Enquanto, eu descia pelo corredor para chegar ao portão, o telefone tocou e pensei com os meus botões, se devia voltar para atendê-lo. Resolvi levar o leite para o senhor e quando o entreguei em suas mãos, ele me devolveu reclamando entre um grito e outro.

_Esse leite não vale nada! É o mesmo que beber água. Será que você não viu que estou magro e preciso engordar?

Nossa! Esse foi o meu primeiro dia de férias? Não acredito! Estou percebendo que vou precisar tirar umas férias das minhas férias!