"Mas Que Diferença..." ou "Defuntinhos Classe C" =Crônica do, infelizmente, cotidiano=

O assassinato da linda e simpática criança de nome Isabella, aos seis anos quase completados, pareceu abalar as estruturas. Chocou o país. Revoltou. Uniu toda a imprensa. A grita foi geral e o caso acompanhado exaustivamente, minuto a minuto, por todas as redes de televisão. Por toda a mídia, melhor dizendo.

Durante muito tempo martelaram nossos ouvidos com os nomes Isabella, Ana Carolina, Ana Carolina Jatobá, Alexandre Nardoni, pai do Alexandre Nardoni, e só faltaram noticiar a que horas da madrugada a madrasta soltou um pum na cadeia ou quantas vezes o pai assassino espirrou durante o dia. A coisa chegou a tal ponto que a única expressão cabível é:”Encheu o saco”.

Mas Isabella era filha de gente da classe média. .

Agora, há uma semana atrás, dois irmãozinhos, de família muito pobre, foram mortos, esquartejados, e ainda tiveram seus corpos queimados e ensacados para jogar fora. Você se lembra do nome do pai assassino? Ouviu o nome da madrasta monstruosa repetido à exaustão? Guardou os nomes dos dois meninos? Ouviu advogados dando entrevistas o tempo todo sobre cada passo do que aconteceu do momento dos assassinatos até o presente momento? Eu só ouvi o Datena falando repetitivamente sobre o monstruoso assassinato duplo. E cá pra nós: coberto de razão em sua indignação quanto às nossas leis atuais.

Fico imaginando se os dois coitadinhos tivessem um sobrenome famoso, ou pelo menos conhecido e respeitado, se fossem filhos de um astro do futebol ou da Fórmula 1, ou de um empresário bilionário... Acho que até nos tirariam da cama durante a madrugada para ouvir as últimas notícias sobre o crime.

A mídia talvez tenha razão. Pra que gastar vela com dois defuntinhos classe C, não é mesmo?

Ps: Como todo e qualquer ser humano normal, que gosta de crianças, senti muito o assassinato da Isabella. Muito revolta, muita indignação, muito asco pelos que praticaram o crime. Todos os mesmos sentimentos que tenho agora em relação aos dois irmãozinhos abandonados à própria sorte, ou melhor, ao próprio azar de serem filhos de um monstro casado com uma animalesca e sanguinária mulher.

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 12/09/2008
Reeditado em 12/09/2008
Código do texto: T1174919
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