COISAS DE AMIGAS...

“Não se leve tão à sério”, diz minha amiga ao bater a porta, finalizando nossa conversa de horas em que devo tê-la desbaratinado com minhas inúmeras perguntas sem respostas imediatas, que só servem para esfaquear minha rotina.

Na verdade somos duas desajeitadas com a vida, ela com uma coragem infame e eu com medo das tentações fatais. Ambas em conflitos constantes, ela, porém, menos queixosa do que eu. Ela se permite errar. Só ela conhece minhas fraudes e desaprova meus pensados acertos. Quando penso que supervalorizo os avisos, enquanto ela explora o desavisado... no entanto, nossas vidas se completam nessa inconsciente cumplicidade e cuidado com o tempo que nos é dado. Esse meu vagaroso e comedido agir se prolonga por anos e anos de uma paciente espera, que ela cobra, com a liberdade e permissão que só os amigos têm. Talvez tivesse me perdido com os conselhos dela, e aprendido, como ela, a uma vida sem esperas. E embora sem entender, estaria feliz por pelo menos ter começado.

A vida dela, desmontada e aos pedaços, é mais digna do que a minha. Sem a severidade que tenho, ela simplesmente diz: “não leve a vida tão à sério... você não sairá viva dela mesmo...”