SOLIDÃO DE UM HOMEM
Anos de solidão. A única lembrança dela era uma carta já amarelada pelo tempo. Nela, as desculpas por não amá-lo na mesma medida, e o fim de algo que poderia ter se desprendido da ilusão. Desde então um medo habitual passou a acompanhar-lhe. Medo de amar de novo, de sofrer, de se entregar, de perder, de viver. Grande homem num pequeno frasco. Ele era um nó apertado.
E assim, por anos arrastado em seu comedido viver, aquela carta era seu único passado. Um rompimento inesperado, o qual não soube encarar de frente, daí sua fuga constante, desviando do que poderia ser o corretivo das palavras daquela carta. Um homem que acostumou-se a viver consigo mesmo, e por isso amar de novo era um risco desnecessário.
Tenho pena desse homem e já não posso suportar-lhe. Esse orgulho que ele chama de aceitação, a mesma aceitação que por anos e anos fez dele escravo de uma carta, o impede de desatar o nó que aperta-lhe o pescoço. E, sufocado, grita, chora e se engana.
Não há culpa naqueles que não nos ama. E não há desculpa para não se continuar. O que havia era um homem que não sabia o que fazer de si mesmo, desde que perdeu um grande amor.