Sábado
Sábado é dia doce. Dia de correr inventado, namorar à tarde em público, assistir filme na televisão comendo pipoca (isso quando tá frio, com a namorada, na sala, beijo roubado e tal). Sábado é uma espécie de aleluia prolongada, uma espécie de gestação da felicidade que é ter o sábado à noite por inteira diversão e quando esgotamos toda a fúria acumulada durante os dias anteriores, e ter, afinal de conta, o domingo todo livre e à-toa para não se fazer nada. E sábado, a meu ver, é amarelo. Domingo, vermelho.
Por isso mesmo sábado é dia de não se trabalhar. Devemos respeitá-lo porque é legítimo e sagrado – sábado, inclusive, é dia de aleluia pascoal. Quando chove também é gostoso: parece que a chuva é mais chuva, mais molhada, e observamos melhor os pingos, livres das obrigações que nos tiram a atenção no meio da semana, livre dessas desatenções que serão, acreditem, pequenas nostalgias sólidas, da indiferença que nos mata pouco a pouco o espírito infantil de dentro de nós. Sábado, enfim, temos tempo para a natureza. E para nós mesmos. Dia de se arrumar, pintar as unhas, fazer chapinha no cabelo, experimentar roupa aqui, ali, esta ou aquela, sapato, colares, maquiagem, e enfim estar-se pronto e definido esteticamente para de noite, orgulhosamente, podermos exibir com elegância o longo e árduo trabalho tido durante o dia, quando estamos, por assim dizer, no melhor de nós mesmos e absolutamente embelezados. Sábado é dia de paquerar.
Gosto dessa rotina que não é cansativa. Depois inclusive dá saudade. Sábado também é dia de soltar pipa, fazer churrasco, tomar uma no boteco com os amigos, roubar manga do vizinho, chupar mexerica e ficar com as mãos cheirando a sumo gostoso que não sai. É dia de nadar, fazer ginástica, andar de carrinho de rolimã. Dia, também, de lavar o carro, enxugá-lo e encerá-lo com desvelo. É dia de matar galinha e temperá-la, de fazer feijoada pra comer no domingo. Sábado é dia de não se estressar. Pois não é que hoje acordei sábado? Fui por aí, andando, observando as casas, os quintais, as pessoas embrulhadas em tarefas domésticas e esquecidas de que hoje, pelo amor de Deus, hoje é sábado. Andei até cansar de mim ao longo de minhas pernas, e retornei. Fui longe, sob o sol rugoso e faiscante. Havia muitas flores amarelas – tentei recordar o nome das coitadas ( mas com alegria de sábado) que minha avó muito sabia e dizia, e não consegui – ao longo da alameda, nas beiradas das calçadas que algumas mulheres lavavam com mangueiras nervosas cheias de forte água a sujeira inexistente e o lodo encardido. Não fiquei triste. Afinal, sábado é alegre, sábado é sábado. E é, antes de tudo, doce.