TIA CANDINHA

A passagem da tia Candinha na casa da sua filha foi sempre repleta de surpresas e confusões, pois ela tinha fixação por limpeza e ordem. Já no primeiro dia das suas “pseudo” férias, _as quais foram sendo prolongadas por causa da faxina por ela planejada_ algo incomum aconteceu.

E de faxina a faxina se passaram dois meses!

Bom! Mas, como estava contando... Na noite do seu primeiro dia de férias, algo terrível aconteceu e, com isso, tia Candinha foi acometida de uma insônia perturbadora.

Durante a noite toda, tia Candinha parecia escutar barulhos “onamatopaicos”, os quais pareciam sair da estante repleta de livros, fixada em uma das paredes do seu quarto, logo atrás da cabeceira da sua cama. Na sua imaginação ela via seres esfomeados devorando, com voracidade tudo que encontravam pelo caminho.

Seu rosto enigmático mostrava que á noite ia ser longa, e conseqüentemente o seu corpo tremia com pulos e saltos convulsivos. Foi um mexe e remexe em cima do colchão. As cobertas escorregaram ao chão um incontável número de vezes. Tia Candinha dividia a cama com a sua neta _uma menina de oito anos_e a certa hora da noite, a menina sentou-se no meio da cama, e, com os seus olhos semi-abertos, ainda meio que acordada, meio que dormindo falou enraivecida.

_ Vó, desse jeito eu vou parar nos quinto dos infernos!

A criança voltou a deitar e a dormir, enquanto isso, tia Candinha resolveu levantar e procurar aqueles sons misteriosos, pois os mesmos se espalhavam pelo quarto e a atormentavam.

Foi colando os seus ouvidos pelas paredes, subindo e descendo, até chegar no rodapé. Sim! Isso mesmo! O rodapé é aquela barra de madeira localizada na parede lá perto do chão. Foi assim nessa posição em que: Napoleão perdeu a guerra, que o seu genro a encontrou, quando passava pelo corredor para ir ao banheiro. Ela não o viu e, ele voltou para o quarto e resmungou cutucando a esposa.

_ Sarita será que a sua mãe é sonâmbula?

A mulher falou algumas palavras desconexas, virou de lado e voltou a dormir. Ele então, resolveu deixar a sogra naquela posição, pois a noite é curta e o despertador tocaria as cinco da manhã para acordá-lo para mais um dia de trabalho.

Com os ouvidos atentos e munida de uma grande faca subtraída da cozinha, tia Candinha veio andando pelo corredor escuro. Contudo, Carlinhos como não conseguia dormir, conjecturando: o porquê da posição da sogra? Resolveu que, já estava na hora de saber, o que estava de fato acontecendo.

Nas pontas dos pés e sem emitir ruído algum parou encostado na parede do corredor escuro, meio incrédulo, meio assustado... Piscou os olhos, uma dezena de vezes para ter certeza do que estava vendo. E assim, meio apatetado viu a sombra de uma mão esfaquear várias vezes, algo ou alguém. E nesse, ir e vir, nesse sobe e desce, a sombra da faca ia se movimentando pela parede descendo rumo ao chão.

Muito assustado, com o que pensava ver escorregou a mão pela parede, e então, encontrando o interruptor, acendeu a lâmpada do corredor. Deu de cara, com uma cena dantesca! Sua sogra ao mesmo tempo, em que esfaqueava o rodapé rodopiava e, saltava em cima de algo, que para os seus olhos estava invisível. Foi chegando mais perto, e somente assim pode ver uma infinidade de cupins correndo esbaforidos pelo assoalho, enquanto tia Candinha pisoteava um por um, com as suas pantufas róseas.