PARA O ALTO E AVANTE!

- Pelos poderes de Grayskull, eu tenho a força!

- Espada Justiceira, dê-me a visão além do alcance...

- É um pássaro, um avião? Não, é o Superman!

Se alguma das frases acima faz parte das suas lembranças de infância, bem-vindo ao clube dos fanáticos por super-heróis. Como eles são incríveis, não é mesmo? Nunca erram, sabem de tudo, sempre estão disponíveis para salvar o mundo e, além de tudo, são lindos! Mas se você pensa que os tais super-heróis não existem e que eles são apenas fruto da imaginação de algum escritor de revista em quadrinhos, é preciso que você lance mão da sua visão de raio-X e olhe a realidade e as relações humanas ao seu redor com bastante atenção, pois, se assim o fizer, verá que os super-heróis fazem parte do nosso cotidiano mais do que imaginamos e que o mundo está voltado para eles.

Em primeiro lugar, se você analisar direitinho, verá que o nosso mundo está repleto de gente infalível, e ser infalível é coisa de super-herói. Você nunca prestou atenção em que hoje em dia as pessoas não erram, ou melhor, não podem errar? Cometer um erro ou assumir que se equivocou de alguma maneira, no que diz respeito aos padrões da chamada “pós-modernidade”, é condenável porque é sinal de fragilidade e fraqueza. Seja no trabalho, na vida social ou na familiar, super-herói que se preze não pode se enganar, sequer titubear, tem que ser perfeito, tem que demonstrar total segurança no que faz, tem que saber de tudo um muito - é a seleção natural, meu caro, em que só os fortes sobrevivem, os fracos e desvalidos que se lixem.

Você sabia que convive todos os dias com gente com super poderes, que não sabe o que é limitação? Se a sua resposta for negativa é sinal de que você nunca entrou num shopping center ou num restaurante badalado para um happy hour, por exemplo. Isso porque esses lugares são destinados a um público-alvo bem específico: os super-poderosos, os quais, via de regra, são bonitos, saudáveis e não possuem problema financeiro, são a “nata” da sociedade.

Gente que nunca teve uma celulite sequer, uma varizezinha pra contar a história, gente que nunca soube qual o valor do salário mínimo e quais são os produtos que compõem a cesta básica, gente que nunca passou pela emergência de um hospital lotado, que nunca deixou de ir e vir por causa das escadarias de qualquer instituição. Enfim, se você for o que nós cearenses chamamos carinhosamente de “liso” e, ainda por cima, for feio ou tiver uma limitação física, é melhor você se confinar em casa, porque o mundo não é lugar pra gente limitada!

Os super-heróis estão por toda parte, você é quem não observa direito. Quer ver? Este é o tempo em que devemos a todo custo conquistar o sucesso, seja ele profissional ou pessoal, e super-herói legítimo tem que ser indestrutível, nunca pode ser derrotado pelas forças malignas. Por isso, fracasso é palavra que não pode existir no dicionário de nenhum herói ou heroína dos tempos atuais. Bem-aventurados os bem-sucedidos, porque deles é o reino do business.

Num século em que as relações humanas são baseadas no pragmatismo, em que as pessoas valem pelo que produzem ou têm, fracassar é inadmissível. Por isso, pra se viver bem atualmente há que se ter uma postura de vencedor frente às dificuldades diárias e ainda por cima achar tudo isso muito simples. Que coisa simples é enfrentar provas e mais provas para decidir uma carreira profissional de uma vida inteira aos 17 anos! Mais simples ainda é enfrentar a pressão de um mercado de trabalho praticamente fechado e demasiadamente exigente por causa da revolução tecnológica e ainda se achar culpado por nunca atingir o tão falado “perfil profissional” ditado por esse mercado. Tudo isso é pra super-herói enfrentar na sua luta diária contra o mal - o mercado dita, a gente obedece, e salve-se quem puder!

É... Vida de super-herói não é nada fácil! Eles têm que ser semi-deuses, têm que fazer tudo certinho, podem até sofrer por um breve espaço de tempo, mas sempre se dão bem: vencem as batalhas, conquistam prestígio social, tornam-se famosos e bem-quistos pela comunidade em que vivem e no final da história vivem felizes para sempre! Um sonho, não é mesmo? Contudo, para alguns, pobres mortais sem super poderes, que sofrem com a imposição deste século de que têm de se tornar heróis ou heroínas, isso está mais para pesadelo.

A pergunta que não quer calar, nesse sentido, é: como viver numa sociedade dessas, destinada aos “super”, caso não sejamos super, não tenhamos a força nem a visão além do alcance? Como suportar e superar tantas pressões, tantas angústias geradas pelo conflito de se estar inserido num contexto social baseado num modelo de perfeição, beleza e sucesso? Quem sabe, fazendo como a Loys Lane, do Super-homem, ou a Tyla, do He-man, que, apesar de não possuírem nenhuma capacidade extraordinária, de aparentemente serem coadjuvantes, lutaram com o que tinham - foram elas mesmas e, da maneira como podiam, esforçaram-se para fazer do seu espaço um lugar melhor e, dessa maneira, acabaram deixando suas marcas tanto quanto eles. Mesmo assim, a luta continuará sendo difícil. A Feiticeira que nos ajude!

Izabel Maia
Enviado por Izabel Maia em 11/09/2008
Código do texto: T1173072
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