A solidão companheira do olhar-nos
Há dias em que a saudade é companhia de todos os nossos gestos e parceira para a solidão dos nossos olhares. Não há saudade mais inquietante que aquela que transcende a presença física.
Em dias assim, as palavras desconhecem as letras, a voz. Torna-se inexprimível a emoção e o descrever de qualquer sentimento. Ficamos afins do silêncio, do segredo do recordar e entregamo-nos à cumplicidade do pensamento.
Tanto tenho ouvido estes dias sobre saudade e gente em solidão. Alguns sentindo solidão consentida, permitida; outros, à mercê de uma solidão posseira que os desconhecem.
Quem já não se sentiu estrangeiro diante de si mesmo? Quantas vezes não reconhecemos o que nos circunda? É como se nos ausentássemos do nosso corpo e fossemos conduzidos a lugares que nunca estivemos, como se o olhar buscasse uma intimidade perdida ou jamais vivida.
Quantas vezes não nos flagramos procurando o caminho de ida e volta pela vida? É como se tentássemos surpreender os nossos passos para encontrarmos antigos e novos caminhos. Nesses momentos, os nossos olhos precisam nos ver refletidos no espelho dos nossos olhares. Uma imagem que nos remete a um encontro que pode ser pacificador, se nos pronunciarmos para o nosso coração. Há no mais íntimo de nós, um idioma, uma linguagem de afetos e ternuras que anseia que nós a descubramos.
Há sempre páginas que podemos escrever com letras de vida. Resta-nos sempre e ainda nossos olhares estendidos em incansáveis esperas, enquanto nosso caminho nos reconhece também como nosso destino possível.
Fernanda Guimarães