A OBSESSÃO

Este é um tema deveras importante que por muitas pessoas não é aceito porque mexe com o lado transcendental que é questionado nas diversas vertentes religiosas. Algumas doutrinas religiosas são adeptas às figuras estereotipadas do mundo metafísico, tratando o lado espiritual como algo misterioso, passando a chamar o lado maldoso (do além) de demônios e outras designações mirabolantes que possam expressar o terror e o medo. Alguns nem sequer acreditam no binômio corpo e alma e, incrédulos, apostam no fim inexorável da existência humana, logo após a morte. No entanto, o objetivo desta explanação não é entrar nesse conflito das exegeses religiosas, mas apenas incursionar numa teoria que hodiernamente tem sido tratada com muita preocupação por juristas, cientistas, médicos, já que a cura dos nossos males (tanto do corpo como da alma), necessitam de novos conhecimentos de tal forma que alguns acontecimentos – inexplicáveis sob o ponto de vista objetivo – possam ser equacionados com a ajuda de fatores transcendentais.

Por essa razão é que me arrisco a colocar em evidência este assunto, com o fito de mostrar às pessoas que muitas vezes – mesmo tendo nosso livre arbítrio e nossa capacidade de discernimento para as coisas objetivas de nossa vida – somos levados pela influência dos fluídos que nos rodeiam em torno do misterioso mundo do além, que interferem indiretamente em nosso poder de raciocínio (que move nossas ações) e acabamos por agir de forma inconseqüente, mesmo tendo consciência de que estamos fazendo algo que desaprovamos.

Muitas vezes nos perguntamos: Como podem ocorrer crimes que são inexplicáveis sobre o ponto de vista da normalidade, já que certos episódios transcendem o nosso poder de aceitabilidade para aquele tipo de comportamento. Cito o recente caso da menina Isabela, cujos fatos historiam uma conduta inaceitável por parte de um pai, já que as investigações preliminares levaram à idéia de que ele (pai) teria jogado a própria filha rumo à morte, de uma janela do apartamento onde moravam. Esse crime não teria tanta indignação popular caso não fosse conhecido o autor. Ficaria aquela pergunta no ar de quem teria coragem de cometer um crime dessa natureza, mas a sensação de perplexidade não seria tão profunda como esta de saber que o próprio pai teve a coragem de cometer tal desatino. A primeira pergunta é: O que teria levado esse “monstro” a um procedimento de tal monta, considerando que não se trata de uma ação explicável sob o ponto de vista da normalidade? Assim, logo vem a idéia de que algum 'demônio' interferiu nessa conduta.

Esse é o objeto de nosso estudo:a chamada Obsessão. Segundo o dicionário Aurélio da língua portuguesa; a obsessão é: “impertinência, perseguição, vexação. Figurado. Preocupação com determinada idéia, que domina doentiamente o espírito, e resultante ou não de sentimentos recalcados; idéia fixa; mania”. Veja que a própria definição lingüística dá ensejo à citação do estado de ânimo do espírito. Ou melhor, o problema não se retrai a uma ótica objetiva do pensar livre, eis que a conduta se submete a um elemento doentio de determinação, a ponto do ser ficar refém de idéias fixas etc. São inúmeras os exemplos que viciam a vontade da pessoa: a vingança, o ódio, a ganância, enfim, são objetivos que se tornam um parâmetro de vida, a tal ponto da pessoa não pensar em mais nada de bom, pois todas suas energias estão direcionadas para o mal que pretende produzir num semelhante. Isso é obsessão.

Mas, como seres inteligentes, não podemos ficar estáticos na idéia objetiva de que alguém é maldoso e desumano, pois a filosofia ensina que para tudo há uma origem, considerando que foi Deus que primeiro fez todas as coisas, cabendo aos humanos apenas administrar a sua obra monumental.Assim, quando deparamos com essa tal de obsessão, que é uma realidade palpável e que repercute negativamente em nosso meio, precisamos entender os mecanismo desses sintomas que acabam comandando o ser humano, muitas vezes contra sua própria consciência.

Não há dúvida de que há um comando na vontade dessa pessoa. Esse comando é que julgo necessário conhecermos, para chegarmos a alguma explicação lógica. Por essa razão trago em colação a teria espiritual sobre a obsessão, que é explicável em seus graus de intensidade. Cito para tanto livro “Espiritismo Passo a Passo com Kardec" do escritor espírita Christiano Torchi, que dimensiona o assunto em etapas e segundo as regras emanadas da noções encartadas pelo Codificador francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec). Vejamos:

“Kardec classifica os tipos de obsessão, tendo em vista os médiuns, em: obsessão simples; fascinação; e subjugação. A obsessão simples, o médium sabe que está sendo assediado por um Espírito mentiroso e este não disfarça. É um inimigo declarado, do qual é mais fácil se defender. Por isso, o médium se mantém em guarda e raramente é enganado. Desse modo, as conseqüências são amenas. Entretanto, a pessoa não consegue se livrar deste tipo de obsessor com facilidade. Assim, o que caracteriza a obsessão simples é a persistência do Espírito em perturbar as comunicações e a dificuldade que o médium encontra para livrar-se desse inconveniente. Apesar de tudo isso, a obsessão simples pode ser vencida pela própria vítima, sem ajuda de terceiros (LM, segunda parte, XXXIII: 238). Já a fascinação é uma modalidade de obsessão mais acentuada devido à ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium e que, de certa maneira, lhe paralisa o raciocínio, inibindo o seu discernimento ou a sua capacidade de julgar as comunicações. O médium fascinado não acredita que esteja sendo enganado. Nesse caso, qualquer pessoa está sujeita a ser enganada – até os mais instruídos. Portanto, toda vigilância é pouca. Aqui, as conseqüências da interferência espiritual são mais graves: o obsessor, de natureza profundamente hipócrita, pois apresenta falsos aspectos de virtude, convence a vítima a aceitar teorias e idéias absurdas. A tática do obsessor, neste hipótese, é afastas o obsediado das pessoas que poderiam adverti-lo ou abrir seus olhos para o erro. Os espíritos fascinadores geralmente são bastante espertos, astutos e ardilosos. A vítima, neste caso, depende muito da ajuda de terceiros para sair do processo obsessivo (LM, segunda parte, XIII: 239). A subjugação, também conhecida como possessão, em diversos meios religiosos, é outro tipo de obsessão. Assemelha-se muito à fascinação, porém, neste caso, o obsessor atua com maior intensidade, uma vez que manipula o médium não apenas no aspecto psicológico ou moral, mas também no aspecto físico e corporal. A subjugação – moral ou corporal – é uma interferência do obsessor que paralisa ou anula aquele que a sofre e o faz agir contra a própria vontade (LM, segunda parte, XXIII; 240)”.

Importante consignar que segundo a doutrina espírita todos nós somos médiuns em razão dessa capacidade de sermos vulneráveis ás ações do mundo metafísico, por isso quando há designação da vítima da obsessão ela é tratada como médium. No entanto, para nós leigos, médiuns seriam só aqueles que têm capacidade para se comunicar com os desencarnados. Ocorre que esses são os médiuns com grau avantajado de comunicação, que por uma razão natural que desconhecemos, tornam-se pessoas que desenvolvem uma capacidade inacreditável para esse tipo de comunicação, como pudemos observar no saudoso Francisco Xavier e outros.

Assim, para quem acredita, é imperioso que saibamos diagnosticar em nossas condutas possíveis influências dessa natureza, para que possamos nos defender. Essa reflexão também serve para entendermos os absurdos que acontecem nesse nosso mundo de perplexidades, quando constatamos a existência de assassinos que não se contentam em matar a vítima, mas ainda a esquartejam. Ou quando temos notícias de que um pai mantém em cativeiro a própria filha durante tantos anos, praticando incesto e submetendo-a a todos os tipos de humilhação.

Contudo, aquela pessoa que prefere ver as coisas de forma mais objetiva, irá questionar essa teoria, como a simples alegação de que a pessoa maldosa é assim por si próprio e nada tem a ver com o lado metafísico. Não podemos de forma alguma dizer que ela é errada ou que está equivocada. Na lei dos homens é assim mesmo. Quem pratica um crime de tal ordem e com tanta repugnância, jamais poderá invocar em seu favor alguma lei que não esteja editada pelos homens. Nossas obrigações e deveres civis - enquanto pertencentes à nossa realidade mortal - não podem ser despojadas em nome de uma Lei Universal, que não é disponível para os homens.

Além de tudo, o nosso legado material como seres humanos é a própria realidade do nosso corpo. Enquanto ele existir, também existirá o libre arbítrio e seremos amplamente responsáveis pelo mal que cometemos, tanto na lei do homem como na lei de Deus. Só temos de ter cuidado para não cairmos na rede da obsessão, posto que esta é concreta e pode nos levar à ruína do corpo e da alma. O único remédio é a fórmula da bondade e do amor, uma vez que tais predicados impedem a entrada de fluídos negativos e próprios da obsessão.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 11/09/2008
Reeditado em 11/09/2008
Código do texto: T1172532