Abandono
Nenhuma fresta de luz, e com esta situação não há condições de saber exatamente o caminhar do amanhecer, o relógio é de corda e assim, o barulinho dos ponteiros é o perceber do silêncio naquele momento. A poucos metros dali, uma rua, mesmo com sol a pino, o trânsito é remoto, não serve como referência para distinguir o raiar do dia. O chão de tabua corrida podia ser um sinal do alvorar, num total de três cômodos na casa é um perfeito despertador de ruído, mas este só funcionária se a solidão não fosse companhia da vida nesta construção. A madrugada ainda deve ser a companhia, a televisão pode anunciar o raiar de mais uma epopéia, basta ativar um controle remoto sem pilhas, ainda indefinido. Pode vir do leste o ruir dos balanços das crianças apaixonadas, ou ate mesmo oeste ou sul a anunciar a alforria matinal das camas num limite distante das cercas de divisas. Ainda quem sabe próximo ali um curral vazio ao ser preenchido pelo acordar de uma natureza urbana. O carro de leite que passa dia sim dia não pode ser o prenuncio com uma buzina enguiçada. Respiração e expiração há um sinal de vida, junta-se a guia o aparelho auditivo, passos são seguidos até a porta, abre-se esta num ranger profundo, escora-se junto ao portal encrespado de limo. Esperar! Aguardar! Ainda esta escuro.
Junior – Um sonhador