A inveja do santo.
Sempre fui um ser errante.Desde nova, desde menina.
Talvez o próprio embrião que me deu origem seja fruto de um erro.
Essa sensação é velha conhecida minha, tão entranhada em mim como as raízes de uma erva daninha que resiste a todas as minhas investidas em eliminá-la.
A busca por uma luz que ilumine meu interior é velha canção nos meus ouvidos. Canção que soa desafinada e num ritmo descompassado como toda aquela que é tocada por aqueles que ainda são aprendizes.
Eu sempre quis tomar um banho de alguma coisa parecida com água benta, que me lavasse dos meus erros, me redimisse dos meus pecados e me trouxesse a pureza de atos menos impulsivos, um contato com o divino que eliminasse meus vestígios profanos.
Eu sofri várias vezes, pois prometi mais que várias vezes promover reformas internas de comportamento e talvez de caráter; e sinceramente, sempre caí em mais anseios por reformas.
O fato, é que eu queria ter acertado desde o começo.
Isso me impedia de perceber que só se pode ver a luz, quando de conhece a escuridão ,só se sabe distinguir uma sensação, quando conhece o seu oposto.
O santo, só consegue entender a santidade quando conhece o pecado. Quem não peca, não sabe das duras penas que se enfrenta pela salvação.Ser salvo sem ter pecado, não é vantagem pra ninguém.
É por isso, que gosto dos pecadores. Eles conhecem o valor de pecar, tem coragem de pagar o preço do pecado.
O anseio de um pecador pelo divino, é bem mais racional. Ele não busca o oposto por medo, ou porque lhe ensinaram assim, mais porque assim o escolheu pelas suas experiências ( que incluem prazeres efêmeros e o auge da impulsividade humana), pelas suas próprias quedas e conclusões firmes e certas.
E por isso que digo sem pestanejar : "Todo santo, tem inveja do pecador"!