Um olhar amante
Os olhos dele sorriam sempre. E vinham tão doces tão serenos que ela acreditava ser dona daquele carinho.
Eram doces mas também arredios quando ela em certos instan-
tes lhe cobrava coisas que ele dizia serem só fruto da imaginação.
Ai nessas horas o olhar dele se metamorfoseava e se camuflava como por encanto nas linhas da testa franzida.
Mas ela o amava. E tão somente queria a certeza de que aqueles olhos só para ela lampejavam ternura. Ou se eram tão meigos para algum outro sonho acordado que lhe estivesse afagando à lem-
brança.
E o mundo dela então tornava-se tal qual uma imensa e frondosa árvore que, como braços estendidos ofereciam ao céu dúvidas numa busca de sentido do que não adianta a razão.
E era grande seu amor, e nele não cabia razão.
E ela se perguntava se aqueles olhos escondidos na doçura se
atirariam num repente nos braços de outros olhos?
E eram doces os olhos dele--meigos muito meigos.
Mas ao mesmo tempo avessos às reprimendas, fagulhados na urgência cristalina de escapar da verdade.
E ela sempre perguntando se eram para ela, só para ela a-
quele olhar.
Mas observava e acabava se perdendo na dúvida.
Os olhos dele sempre ameigando-se e transfigurando-se em abraços. E ela adorava. Mas tinha dúvida se eram só dela de fato,
e dele de direito, ou...
Os olhos dele eram tão meigos.........
E ela se perguntava se ele sabia que era por ele que ela sorria.