O Nosso Buraco é Maior!

            Os cientistas estão simulando a criação do universo fazendo uma partícula bater na outra. A nossa mania de brincar de Deus e de tentar entender como as coisas funcionam não é de hoje. Eu tinha a mesma mania quando criança e desmontava alguns brinquedos para depois remontá-los e ver que bicho virava. Vinha o desespero quando algo dava errado.

            Tem gente perdendo o sono por conta da brincadeira dizendo que vai surgir um buraco negro – uma hipótese científica segundo a qual uma boca do tamanho de um mundo, e que mundo, engole tudo em volta inclusive a luz: vai ter fome assim nos confins do universo.

            Serão disparados dois prótons no maior acelerador de partículas do mundo – um caríssimo autorama de 27 quilômetros que custou 9 bilhões de dólares. Está achando muito? Não deve chegar nem perto do nosso buraco na previdência que é maior que o deles e continua engolindo tudo: Brasil sempre na frente! Os homens crescem e não largam a mania de gostar de brinquedos caros.

            O que os cientistas querem é bisbilhotar a intimidade do átomo – olha a indiscrição aí. E eu achando que voyeurismo era coisa de gente com QI inferior a 200-250. Já vejo lá no laboratório o Hanz perguntando ao Fritz:

            - E aí Hanz, foi?

            - Ainda não, o átomo está esperando a molécula sair do chuveiro.

            E você já imaginou o tamanho do buraco da fechadura? Tudo isso para ver o rompimento dos componentes do átomo.

            Na madrugada do dia 10 de setembro, cerca de 9 mil físicos ao redor do mundo aguardaram o primeiro teste. Se a humanidade tivesse a mesma média de inteligência, o peso molecular dos nossos cérebros esmagaria a crosta do planeta. Ficaram esperando ansiosamente o resultado da experiência. Mãos suadas e olhos vidrados em uma tela branca, similar àqueles quadros em que algumas pessoas costumam desenhar bolinhas de um negócio da China. De repente, surge uma luz na tela que logo se apaga. Os cientistas aplaudem calorosamente; nada que chegue perto à vibração de um gol, mas vá lá, respeitemos os cérebros. Foi o choque de dois raios em sentido contrário que não partiram ninguém.

            Fico feliz porque o mundo não acabou e novas tentativas virão. O acelerador tentará repetir trilhões de vezes o momento ocorrido cerca de 15 bilhões de anos atrás (vovó ainda não tinha nascido) quando, conforme crêem os cosmólogos, um objeto incrivelmente quente e denso (não pense besteira) do tamanho de uma moeda explodiu, expandindo-se rapidamente (a pressa está na origem das coisas e o nosso trânsito cada vez mais lento) para criar as estrelas, os planetas e um dia, a vida na Terra.

            Os cientistas afirmam que talvez o experimento não dê certo nas primeiras tentativas. O que significa dar errado? Não acontecer nada ou acontecer alguma coisa inesperada? E o que seria essa coisa inesperada? Seja como for meu amigo, se em alguma madrugada dessas vier uma enorme boca do tamanho de um universo para o seu lado, corra, ou então relaxe e espere – quem sabe exista alguma coisa interessante do lado de lá do buracão...