Adinamia

Quando saí da caatinga para viver na maior metrópole do país, vivi coisas incríveis e a adaptação – se é que ocorreu - foi marcante, intrinsecamente marcante. Tive contato direto com a maldade humana; e agora preciso parar e abrir um parêntese, um parágrafo, vai...

Tal afirmação não diz que na caatinga não exista maldades ou aberrações; apenas vive-se isoladamente, em família, e as mazelas são mais raras; ou simplesmente aconteciam longe de mim. Sem contar com àqueles conterrâneos que saem de lá para barbarizar terras alheias. Infelizmente isso acontece em todos os lugares com mais o menos freqüência. E nós, nordestinenses, levamos desvantagem por sermos nove estados.

Voltando: mergulhei profunda e involuntariamente na situação vivida nos anos 80 para escrever o capitulo final de A curva do rio. Conclui e fiquei feliz. Mas, não consegui sair da cena, não consegui me desvencilhar do ranço daqueles dias; àquela situação grudou em mim (somente um chavão para descrever com exatidão) feito tatuagem. Adinamia total. Felizmente sou ignorante o bastante para acreditar que depressão é doença de baitola. E assim me fui salvando da tal tristeza.

Veio então o caso dos três inocentes de Guarulhos, assumindo crimes - nem vale a pena aqui citar – confessados à base de tortura, em cachoeira barulhenta, linda e sinistra. Os inocentes torturados, depois de dois anos, foram soltos e talvez sejam inocentados pela mesma justiça que os levaram ao inferno.

A tv mostrou a cara rica e bem cuidada dos caras encarregados de fazer justiça. A justiça que se tornou um fardo pesado, tão pesado e caro que a sociedade não pode mais carregá-lo. Não por rebeldia, mas, por mera condição física. É muito peso para um corpo magro de alma esquálida.

Mas isso ainda não é o pior. Isto é o pior: os torturadores foram afastados! Meu deus... Não foram os policiais que torturam àqueles infelizes. Foram torturados por mim, por você, pelas instituições, pelo Brasil. Amanhã outro caso tão escabroso quanto, estará nas manchetes. Rezo para que não seja eu nem voce. E outra vez o foco será desviado confiando exclusivamente na burrice de uma sociedade analfabeta, apodrecida, nojenta, que induz a letargia moral e física àqueles que usam o cérebro para a função natural: pensar.

Felizmente, aqui onde voto, o candidato majoritário - fatalmente será eleito; na eleição passada foi cassado por infração – promete acabar com a tristeza. É esperar pra ver. Uma esperança é sempre uma esperança. Ou melhor seria partimos, em fila indiana, para o lixão?ntão vamos, Brasil.