O preconceito pode matar

Eu faço um trabalho com deficientes há 5 anos e desde quando entrei no Projeto Para-Esporte, venho me identificando com essas criaturas de coração aberto, apesar da carência de amor que as cercam, por parte de quem está mais próximo, no caso os familiares.
Trabalhamos com crianças e adultos: Anomalia mental, com deficiência auditiva ,visual e física e até dependentes químicos.
São vários tipos de esporte que congregam o projeto, entre eles: O atletismo, natação, futebol e xadrez.
No meu esporte, o xadrez, tenho algumas histórias para contar dessas pessoas maravilhosas.
A maior barreira que elas enfrentam, são os bloqueios alfandegários impostos por familiares, que constroem uma espécie de muro de Berlim do preconceito, dentro dos seus lares, entravando a vida deles para sempre; sem falar na sociedade que propõe um paradoxo, indo nos dois extremos, das pontas dessas indiferenças.
(Existem famílias que tratam muito bem seus entes com anomalias) 
Uma coisa é ter pena e a outra é anular-las, numa marcação implacável, fazendo com que elas próprias engulam e vomitem ao mesmo tempo em que são jogadas como traças, no lixo da imoralidade.
Bem! Vou falar dos meus alunos mais destacados e
citar um intrigante exemplo da falta do sentimento humano.
Josilda tem na faixa de 45 anos de idade... Ela viveu mais de 30 anos como uma doente mental trancafiada dentro da sua própria casa sendo tratada como uma louca.
Quando a sua mãe faleceu, com a ajuda de vizinhos, a trouxeram para dentro do nosso projeto. A parti daí ela ganhou uma nova vida... Hoje sim ela vive. Já está namorando o Edmundo...Pode??? Claro que sim... risos
Edmundo tem uma deficiência visual e auditiva e com muito esforço estamos tentando evoluir a sua lucidez.
Ele já conhece algumas peças do xadrez. É uma pena que ainda não temos um tabuleiro apropriado para ele. Por enquanto estou tentando aprender o Bryle para melhorar nossa comunicação.
Dentro do nosso esporte alguns se destacam, de acordo com cada deficiência. Fico feliz quando acompanho um passo vencedor de cada um deles.
A vitória não é de um xeque mate mais sim da auto- afirmação e auto-estima, que elevam o espírito dos mesmos, lhes dando a oportunidade de viver num mundo igualitário e fazendo da inserção social, uma vontade incessante para galgar um pódium nas suas vidas.
É convivendo com essas pessoas normais que tenho aprendido cada vez mais a ter fome de viver.
É isso que devemos ter sempre. Os exemplos passados atingem em cheio a nossa alma que se sensibiliza e faz com que haja uma retração dos nossos pensamentos negativos em alguns momentos ruins que passamos.
Imaginem! A gente que tem uma saúde e um físico privilegiado não pode se mal dizer da vida, depois que ouve as histórias desses verdadeiros heróis da resistência.
Eles não querem nada de graça... O mais importante do projeto é dar a chance da inclusão dos mesmos na sociedade e a arma interação incita o âmago dessas criaturas divinas.
Talvez elas amem a vida mais do que nós “perfeitos”.
Elas querem doar seu coração também e lógico querem receber uma contrapartida igual.
São pessoas iguais a gente, carente de tudo, precisando de palavras de carinho para estimulá-las numa forma mais simples e possível da vida, nesse mundo muito preconceitual.

Foto: Ao fundo, a professora Teresa me auxiliando nas aulas dos meus amigos de fé.
Zédio Alvarez
Enviado por Zédio Alvarez em 09/09/2008
Reeditado em 25/01/2016
Código do texto: T1168738
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