Passarinhos
Passarinhos
Meio-dia tem revoada de passarinhos, coisa bonita de se ver. Barulhentos, carregando suas mochilas e cadernos; fazendo firulas a caminho de seus ninhos. Enchendo as ruas da cidade de fantasias, de cores, de vida. Ah... Os passarinhos...
Gosto deles; dos que pulam de uma laje a outra, voando junto às pipas que soltam. Dos que correm descalços pelos becos, fugindo de alguma traquinagem. Gosto dos seus cantos que ecoam nas risadas livres morro a cima, feliz morro a baixo. São lindos, são multicoloridos. Negrinhos de olhos azuis, branquinhos de cabelos sararás. Infinitas são suas cores, infinitas são suas formas, infinitas são as suas belezas; impossíveis de enumerar.
Mas a cada dia torna-se mais curto o viver desses bichinhos. Caçadores munidos de “bodoques” 9mm, uniformizados de morte e camuflados de ordem; sobem os morros a procura de outras aves. Dizem que não querem acertar os passarinhos, mas não raro encontramos um caído pelo chão.
Pobres passarinhos, que se sentam à porta de casa após o café da manhã, que se escondem no banheiro com medo dos barulhos da caça, que vão ou voltam desavisados da escola pra casa; quando os caçadores chegam por lá... Ah passarinhos...
Um dia, um caçador, “sem querer” (foi o que ele disse), acertou um outro tipo de passarinho. Um lindo passarinho de exposição, desses com "pedigree". Logo o “homem grande” da cidade classificou o ato como barbárie. “Como pode?” Disse ele e acrescentou: “eu tenho um desses também”.
Mas o que dizer dos passarinhos da Providência, que foram entregues, por caçadores (de “chumbos”), como presentes às aves de rapina de um outro habitat? Restou para as donas dos bichinhos chorarem a maldade de caçadores tão (no mínimo) desastrados. Com pedigree ou sem, a dor as faz igual, mas a justiça não.
Hoje todos conhecem esses fatos, alguns até sabem o nome dos passarinhos. Mas e amanhã? Quando todos já tiverem esquecido? Novos passarinhos poderão ter o mesmo fim! Até quando?
Adriana Kairos