QUEM CASA QUER CASA, QUEM DESCASA TAMBÉM

Eu queria uma casa nova. Uma casa sem lembranças.

Tinham morrido todas as minhas esperanças.

Quem casa precisa de uma casa pra viver e quem descasa precisa de uma que o ajude a esquecer.

Era o que eu pensava.

Mas tinha já um lugar para morar. A casa que ficará pra meus filhos quando eu morrer.

O que eu podia fazer?

Botei pra vender.

Vieram alguns interessados. Diziam que a casa era bonita. Mostraram até algum interesse e não voltavam.

Fui ficando, algumas coisas nela mudando.

O tempo foi passando.

Não vendi a casa e hoje ela está mais bonita. Eu a enfeito, ajeito.

Meus filhos a adoram.

Tem horas que penso que nossas raízes vamos fincando.

Dia destes eu conversava com minha mãe, uma sábia criatura, e ela me falou.

Filha, você sabe por que nunca conseguiu vender esta casa?

Fiquei olhando-a ternamente e ela concluiu.

Você não vendeu porque minha oração tem mais força que a sua. Você pedia para que alguém comprasse e eu pedia para que ninguém por ela se interessasse. Esta casa, minha filha, é o seu lugar no mundo. É uma bela casa e no fundo, no fundo você gosta muito dela.

Abracei minha mãe dizendo que ela mais uma vez estava certa.

Onde quer que eu fosse as lembranças iriam comigo.

Só o tempo tem o dom de amenizar as dores e trazer esquecimento.

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 08/09/2008
Reeditado em 25/03/2011
Código do texto: T1167831
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