O bom consolo

As paredes nuas invadem meus poros, cores se fazem vivas e ativas nas retinas já cansadas duma vida morta. Sinto-me só.Sou só.Às vezes sinto a ingratidão inerte sob o peso de minha existência, como se devesse pagar por cada segundo de vida.

A solidão do meu silencio conforta a ausência de algum ouvido, que ao acaso, procura o suicídio.Lembro-me bem, observava sempre distante os detalhes de tudo, as gavetas da minha infância ainda guardam notícias fúnebres, e definitivamente cada passo inumano das pessoas que minha vista alcançava. Hoje, não diferente do passado, tenho meu quarto, amigos e talvez família. Porque tinha a impressão de que a genealogia do meu sangue, não me pertencia nem quando estava sendo descuidadosamente gerada.

Tudo ao meu redor era fútil e propositalmente chato. Não havia uma forma de escapar, não havia nem sequer motivo para isso. O concreto era concreto original, mesmo sendo em seu todo abstrato.

Pensei em gritar, inútil! O próprio grito já ecoava inaudível em mim.Nunca fui a mesma depois que meu gato morreu. Já basta! Adoro crianças, mas prefiro os animais.

Preciso de algo que me mate para ao menos escapar do ócio que traspassa pelos objetos, entre os desejos. No lixo já não há nada de interessante. Foi tudo roubado por um mendigo triste que havia perdido tudo num incêndio. No chão já não existe terra, foi possuída por outro ser de semelhante destino. Preciso procurar o buraco! Onde poderia começar a procurar o buraco, senão na beira do precipício? Ao certo jogaria lá todos os tecidos que sobram das minhas vestes, todos os papéis onde haviam escritos feito por alguém que não existia, que na realidade existia, mas não sabia disso.

Oh! Solidão tão abordada, tão temida e tão feliz.Ensina-me tristemente a ouvir o som da melodia, de tal forma que não queira mais sair. Nem da melodia, e nem dessa névoa escura que contempla meu gesto.

Cansada estou do velho papel (Que na melhor das hipóteses, nunca me abandonou).

Cansaço. Medo.Uma alegria quase infeliz arranca meu riso sedento e faz verter uma lágrima salgada.Sim! Salgada.

Paulatinamente ela rola furtiva em minha face, como se consolasse a alma.

E de fato consolou, pois depois enxuguei as lágrimas, deitei e dormi.

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Shauara David
Enviado por Shauara David em 08/09/2008
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