Ginecologista

Caminhando lentamente entro no consultorio, de paredes brancas e frias, luz forte e azulada, muito barulho, somente mulheres. Retiro da bolsa cartão do plano de saude e identidade e me aproximo de balcão, a minha consulta ja estava marcada, mas a medica ainda não havia chegado e eu seria a sétima a ser atendida.

Sento com desconforto numa poltrona baixinha, funda, de couro marrom, quase beijando meus joelhos. Pego uma revista e me deparro com a novidade de que a Xuxa é mãe! Como não estava munida de leitura descente fui obrigada a ler o que tinha. A conversa das outras pacientes era um tom acima do que minha paciencia suporta, mas fui relaxando e tentando fazer de conta que aquele papo de filhos, doenças, parceiros, mais doenças ainda, era tudo muito agradavel.

Senti um fio de suor escorrer em minhas pernas, não sei se foi pelo calor ou se pelo fato de estar indo pla primeira vez naquela ginecologista, pois a minha medica não pode me atender em tempo habil.

E a cada vez que a secretaria chamava um nome pra entrar na sala de consulta, sentia um misto de medo, ansiedade e euforia. Finalmente, apos umas três horas, meu nome ecoou na sala. Levantei, ajeitei a saia, passei a mão no cabelo e rumei consultorio a dentro.

Cumprimentei a medica e que logo em seguida começou a sabatina, com peruntas ja conhecidas como a idade da primeira menstruação, da perda da virgindade, se ja teve doenças ginecologicas, filhos, cirurgias...enfim! Tudo respondido com facilidade e se fosse prova eu tiraria dez, ate aquele momento! Fui mandada ao banheiro - tira a roupa toda e vista essa camisola - e a dúvida permaneceu. Seria a aberta pra frente ou pra tras? Ate porque isso depende do medico, ja vi quem mande colocar pra frente, quem mande pra tras. Mas diante do rosto serio da medica, que me fitava por cima de lentes grossas e amareladas, hesitei, coloquei como achei mais sensato, bingo!!! Ela comentou - tem sempre uma ou outra que vem me perguntar "é pra fente ou pra tras?" - senti um certo alivio de ter ficado de boca fechada.

Mas agora viria o pior, deitar naquela simpatica cama, com as pernas bem abertas, onde ele apoderia ver até o meu avesso. Mas, como experiente medica que é, ela não foi direto ao ponto, primeiro as preliminares. - Dói aqui? E aqui? E aqui? E foi apalpando seios, as laterais da barriga, a parte inferior. Nada doia. Pra que então adiar mais em dar de cara com minha cocota, constrangida e tensa?

Sentou-se na minha frente, senti a respiração dela no meio das minhas pernas e de lá saia sons metalicos, estranhos, me senti como no filme O Albergue, seria uma sessao de tortura. Eu ja me preparava pra sentir aquele famoso bico de papagaio geladissimo dentro de mim, mas pro meu alivio era ate morninho, é de acrilico e vem amornado pra não incomodar a paciente, afinal não é todo mundo que se senti a vontade de pernas abertas na frente de uma estranha.

Fico imagindo quantas cocotas ela olha por dia, deve ficar comparando, deve rir sozinha pensando nas coisas estranhas que deve ver. Fico ali sentindo aquele simpatico instrumento me abrindo e a medica tentando ser agradavel, me pedi pra relaxar porque não vai doer. Que não vai doer eu sei, mas me sinto devassada e a vontade que tenho é de levantar a bunda e travar por completo pra que ela não faça mais nada. Ledo engano, ainda faltava aquele contonete giganteco fazendo cocegas no colo do meu utero. E la vai ela, passa pra la, pra ca e eu com cara de paisagem, tento me distrair olhando o reboco do teto, a luminaria empoeirada, a a a ahhhhhhhh!!! Isso doeu!!! Mas não era pra doer!

Retirado o instrumento de tortura, ela faz uma minunciosa revista nos pequenas labios ou ninfas, como queiram. E aquele rostinho marcado pelo tempo, de oculos em ponta de nariz aparecendo na minha frente foi a visao do paraiso, havia acabado a tortura. Ela dá uns tapinhas amigos em minha coxa e manda eu me vestir, aparentemente esta tudo bem. Tudo acabado!?!?! Foi o que pensei!!! tinha esquecido que depois disso tudo ainda tenho levar a coleta pra o laboratorio.

Mais aliviada, sente em frente a medica que prescreve os exames a serem feitos com aquele material invisivel contido no vidrinho com alcool.

- Assim que estiverem prontos, marque seu retorne. Bom dia.

E la vou eu, potinho na mão, papelada na outra, a caminho do elevador. E começo a entoar um mantra : "Que o elevador venha vazio. Que o elevador venha vazio.". Chegou e chegou vazio, foram segundos de privacidade de que eu necessitava apos a minuciosa e constrangedora consulta.

A porta se abre e de dentro do elevador vislumbro um mundo de portas, consultorios, banheiros, mulheres, crianças, mais mulheres, barulho...Caminho rumo ao laboratorio, que não fica a mais de dez passos dali. E sentindo um fio de suor escorrer em minha nuca, caminho a passos largos e apressados, ja querendo ir embora. Imagino que as atendentes devam pensar quese eu fui fazer a coleta pra exame é porque devo ter alguma doença. Elas devem se juntar ao final do espediente e ficar lendo os resultados de quem elas porventura conheçam.

Entao fui bem seria, com cara de poucos amigos, coloquei o fraquinho no balcão, os documentos e a carteira do plano. Mas pra minha surpresa ela nem me notou, desviou os olhos da tela do computador por uns segundos, tempo suficiente pra olhar pra mim com cara de desprezo. Digitou o que tinha de digitar, imprimiu e meu deu a guia pra recebimento, juntamente com meus documentos.

Levantei aliviada, caminhei lentamente pra porta e desci as escadas do predio aos trotes, sorrindo feliz, sentindo o vento batendo em meus cabelos, sentia-me leve, com a sensação de dever cumprido, ou pelo menos metade dele, pois ainda voltaria pra levar o resultado dos exames.

Caminhando feliz, dei uma gargalhada e pensei comigo mesma:

- Ainda bem que ela não me passou exame de fezes!!!