Uma nuvem de palavras


          Seu nome é Dagmar Braga e ela tem, em Belo Horizonte, um espaço cultural que é ponto de encontro de escritores e amantes das artes em geral e onde ela organiza oficinas para pessoas interessadas em desenvolver seu potencial de comunicação e escrita: o letras e ponto!. Seu endereço eletrônico é www.letraseponto.com.br. Foi ela quem substituiu Bartolomeu Campos de Queirós na oficina organizada pela Humanizarte durante o encontro TIM Estado de Minas Grandes Escritores Forma Leitores do qual participei.

     Eu não a conhecia. Continuo não conhecendo porque mal nos dirigimos a palavra. Ela disse: Você usou todas as palavras? Eu respondi: Sim, todas. E foi só. Mas acho que vale a pena falar sobre ela.

     É uma mulher simpática. Com um tom de voz agradável conversou conosco por quase quatro horas. Falou da palavra e seu poder. Do escritor e seu papel no mundo. Da ligação do leitor com a obra literária. Enquanto ela falava eu anotava e rabiscava. Escrevi até uns versinhos, influenciada por sua fala: Estou no meio do acaso/esperando Ser./No meio de tudo/ainda sou nada./Só o tempo me transformará/Só a palavra me definirá. Mas por favor, não me pergunte o significado. Eles significarão para você coisas diferentes do que significaram para mim. Ao lê-los você se transforma no autor. Eu acredito nisso e a Dagmar também.

         E o que mais ela disse? Bem, já me desculpando por não ter condições de repetir aqui exatamente o que ela disse vou escrever o que entendi do que ela disse: quando leio eu preciso acreditar na narrativa que estou lendo, portanto o escritor precisa estar atento para passar ao leitor, de forma verossímil o que está escrevendo. Para isso ele precisa estar sempre atento, lançando ao mundo um olhar inquieto, olhar de criança, olhar de poeta. O que nós, os escritores temos que fazer é expandir a história do individual para o universal para que cada leitor se transforme em nosso parceiro. Mesmo que seja um só leitor. Ele merece. Nossas maiores armas são a memória e a imaginação. A palavra é nosso instrumento de trabalho e por isso temos que cuidar bem de mantê-la afiada.
 
       Na parede, a imagem de uma nuvem repleta de palavras. Uma nuvem pronta a se transformar em chuva. E um convite: vejam estas palavras. Construam uma frase, um parágrafo, um pequeno texto usando pelo menos cinco destas palavras.

PEDRA – ESPERANÇA- ESPELHO –ABRAÇO- SANGUE – PERDER- ESPANTO- DESEJO-VIDA-CORPO- CAMINHO-ESPERA-NUVEM. 

E nós construímos. Frases interessantíssimas. Umas melhores do que as outras, mas quase todas boas. A minha certamente não foi a melhor. Nem a pior. Vou reproduzi-la aqui, mas já bem melhorada. Que o bom escritor costuma deixar o texto dormir para depois relê-lo. E corrigi-lo. Assim aprendi com Dagmar. Mas quase nunca faço. Porque fico afoita para publicar.

   Sigo o caminho da vida como uma girafa: o corpo apoiado nos pés, bem plantados no chão e a cabeça nas nuvens. Cada nuvem o meu desejo transforma em uma imagem diferente que a mim mesma causa espanto. Espelho do meu próprio eu elas refletem o que sou naquele momento. Então escrevo. São versos, ora banhados de sangue, ora da cor da esperança. Ora refletem a espera do que quero ser ou ter, ora o medo de perder o que já conquistei.Cada pedra que encontro nesse caminho transformo em versos e a mim mesma abraço como abraço a vida.

O interessante é que resolvi contar as palavras agora e só achei treze. Mas eu podia jurar que eram quinze. De qualquer forma faço o convite: escrevam também a sua historinha com essas palavras.

     Dagmar disse estas e muitas coisas mais. Irei lembrando aos poucos e tentando utilizar-me de seus conselhos. Entre outras coisas ela se desculpou muito pela decepção que nos causou, já que sabia que esperávamos o Bartolomeu. Não precisava. Valeu a pena estar com ela. Quem sabe um dia não irei até Belo Horizonte participar de uma oficina no Letras e Ponto!