Indignação
Hoje cedi a vontade para falar coisas fartas, do sorriso aberto, da tristeza compensada, do sentimento de revolta, da saudade descomedida, do mundo particular de alegrias, das canções que marcam, das boas prosas.
A vida segue um compasso que está sempre aberto ao destino, o tempo, fiel amigo de chrónos remete a uma temerosa existência, sobre tudo que poderá ser hoje e não tornará a ser amanhã. As oportunidades são únicas, as pessoas também, por isso deve existir a necessidade de viver o presente, e aproveitá-lo da melhor maneira possível.
A alegria é repulsa imediata de todas as energias negativas, um acolhimento em êxtase dos bons sentimentos que ficam à flor da pele e acabam por refletir sorrisos, fartos, sensíveis, discretos, mas que deixam transparecer o nítido espelho de leveza da alma, e torna a tristeza sua ressaca.
Me parece que o mundo anda pelo avesso, o progresso tem cheiro de um regresso instintivo aliviado por promessas de uma melhora que não vem, como se o futuro propenso cada vez mais a tecnologias trouxesse a resolução para tudo tornar-se mais cômodo, mas, na verdade, o que se deseja é um artefato bem elaborado que possa gerar PAZ.
Eis que nesta palavra se condiciona sentimento de revolta. Não se procura mais casa para morar, viver bem, sobre o aconchego familiar, procura-se, cada vez mais, um lugar que possa ter toda segurança , que não respire liberdade, mas isolamento do mundo, recolhimento do medo, da tentativa desesperada de conseguir tranqüilidade.
Vejo nos animais uma relação muito mais pacifica do que entre os homens, o que desfaz toda a trajetória cientifica de racionalidade. Que tipo de ser racional é este que mata com articulados instintos de crueldade? Soa-me injusto até mesmo nomear alguém assim como bicho, até mesmo o termo animal tem valoração muito maior do que essa COISA sem nome. Mas, os homens de bons corações que restam, ainda se dispõe na credibilidade da vida, apoderam-se no amor, no ser humano de justa causa, nos amigos verdadeiros que nos aparece em forma de abraço, palavras, por mais que a dor seja tão dilacerante, e estes surgem para coexistirem com a fé e o amor. Já não creio mais na justiça com anseio laico, se brinca com ela, e todos os juramentos de desfazem.
Perdi a palavra para o sentimento, pela primeira vez me vi querendo dizer sem conseguir articular, os sentimentos foram maiores, a sensação de revolta me deixou com os dedos paralisados, estagnada em uma saudade que não é minha, mas que me corta as atitudes de querer defini-la, um sentimento de luto, de respeito pelos bons corações que sofrem pela ausência demasiada de alguém.
Por isto não há canção, nem prosa, apenas um vasto silêncio de indignação...
http://invadefim.blogspot.com/2008/09/indignao.html