O inesquecível 7 de SETEMBRO da minha infância
Comecei a frequentar escola muito cedo. Fui prá la já conhecendo as letras e até montando silabas e algumas palavras.Frequentei o jardim da infância de um colégio de freiras, onde as crianças passavam o tempo brincando, entretanto a Nazaré, que era auxiliar da freira e que tomava conta da turma, vendo o meu interesse por letras e números ensinou-me um pouco mais e me mostrou como fazer continhas de somar e subtrair, contas bem simples, é verdade.
Estava findando o mês de julho, e com isso as férias.Já estava imaginando a volta pro colégio quando fui informado de que a partir de agosto frequentaria uma outra escola. Prá minha tristeza e decepção seria aluno de uma escola da zona rural, demasiadamente
simples,rudimentar e muito precária .Como eu sabia como elas eram, a comparação com o colégio das freiras me frustrou muito.Mas eu nada podia fazer.Nem chorar muito adiantou.
Inicia-se o segundo semestre, fui para a escola. Era bem distante, mais de cinco quilometros.Havia dois trajetos prá se chegar lá, uma estrada com muita poeira em dias secos, e muita lama em dias chuvosos.E o outro se dava por trilhas e carreadores (estrada precária entre as plantações agricolas).O que ajudava e consolava era a companhia de muitas crianças que também frequentavam aquela escola.
E bom saber que nessas escolas da zona rural, em uma mesma sala um único professor lecionava para alunos da primeira a quarta série, e mais, a primeira série era composta de alunos muito atrasados, os com conhecimento médio, e os adiantados que eram os que podiam fazer provas e o exame final.
Um certo dia o professor, em sua mesa começou a chamar alguns alunos e a entregar-lhes uma folha.Ninguém sabia o que era.Como o professor era muito exigente e muito severo com relação à disciplina, fazia-se um silêncio total. De repente:
- Senhor Roberto. Venha cá!
( O professor chamava a todos os alunos de ¨senhor¨)
Assustado e com medo, tremendo qual vara verede, dirigí-me à mesa dele.
Entregou-me uma folha na qual continha algo manuscrito.
Após a convocação, o professor explicou do que se tratava.
-Vocês que receberam a folha, podem ver que ai contém uma poesia.Vocês devem decorá-la para recitar no dia SETE DE SETEMBRO. E explicou-nos o significado desta data.
SETE DE SETEMBRO DE 1958. Nem a chuva e nem o céu carrancudo estragaram a festa que a escola realizou num campo de futebol de uma fazenda próxima.
Momento da apresentação das poesias. Todos os escalados aguardavam ansiosamente pela sua vez.Seria a minha primeira fala em público e, já na estréia, diante de um microfone. A aparelhagem de som havia sido emprestada pelas Casas Pernambucanas.
Chegou a minha vez. Bom eu havia ensaiado muito, exaustivamente.Não havia dúvida de que eu faria uma bela apresentação.Fui chamado.Fiz aquela pose.Mas de repente o inesperado. Deu um branco e não me lembrei de uma palavrina sequer da poesia.Algum esforço, e nada.Chorei. Eu chorava fácil quando algo não ia bem.Então fui muito aplaudido, coisa que na época não entendí e imaginando que fosse por gozação... chorei mais ainda.
Fiquei muito triste com a minha atuação. Só ao chegar em casa, depois de um dia de festas e brincadeiras, lembrei-me da poesia. Tentei, mas não consegui descobrir o autor da mesma.Pode ser que seja apenas um trecho de um poema, dizia assim:
¨Não só da escola distante,
mas até mesmo do lar
sozinho de hoje em diante,
terei de sofrer e lutar¨
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Não! Aquele tropeço não me desencorajou.Ensinou-me muito.Se tiver que chorar - choro. Se tiver que rir, fico que nem um bobo rindo.SE tiver que lamentar, posso até lamentar por algum tempo, mas nunca para sempre...
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Tempos depois, eu cursava Direito na Universidade Federal do Paraná,
Não sei se dá para comparar.Enquanto naquela pequena, simples e quase ignorada escola da zona rural o SETE DE SETEMBRO era festivamente comemorado.Quando frequentei a Universidade Federal esta data era ansiosamente aguardada por um outro motivo: Um feriadão, pois em Curitiba o dia 8 também é feriado.