Um e Outro
Compadre Lemos
Eles eram – e serão sempre – muito diferentes:
Um foi povão, brega, irreverente até, na sua simplicidade.
O outro, um clássico, comedido, culto, um intelectual.
Um cantava boleros rasgados, passionais, bem ao gosto dos parques e bordéis. Era um romântico sistematicamente incorrigível.
O outro dizia, nos palcos e telas da vida, textos difíceis e requintados. E com que propriedade!
Um casou-se três vezes e viveu Deus sabe quantos romances inenarráveis.
O outro, um cavalheiro, esposo único de uma verdadeira Dama, pai exemplar que deu origem a uma família de artistas.
Um freqüentava feiras, biroscas e butecos, tomava pinga com coca-cola, comia torresmo, pedia uma chave e uma carteira de Belmonte.
O outro conhecia o requinte dos hotéis da Europa, os caviares, os champanhes e os foie grasses da vida.
Um era o Brasil simples, humilde, autêntico e apaixonado de tantos quantos já solfejaram “Eu não sou cachorro não"!...
O outro, não menos brasileiro, não menos autêntico e tão apaixonado quanto, tornou-se um marco indelével em nossa Cultura.
Mas, ambos...
Ambos foram-se ontem, por um único caminho, para o mesmo lugar.
Missão cumprida, Waldick Soriano e Fernando Torres, dois ícones das artes brasileiras, mudaram-se ontem, de repente, para um pais chamado Saudade.
Que fique registrado aqui o nosso mais profundo respeito aos dois.
Ambos foram, nessa existência, exata, honesta e completamente o que se propuseram a ser: representantes autênticos da emoção de um povo.
Só no Brasil!... Só do Brasil, duas pessoas tão diferentes partem assim, no mesmo dia, de mãos dadas, sob lágrimas e aplausos, para a Imortalidade!
Amém!...