Um e Outro
                                                                               
      Compadre Lemos



Eles eram – e serão sempre – muito diferentes:

Um foi povão, brega, irreverente até, na sua simplicidade.

O outro, um clássico, comedido, culto, um intelectual.

Um cantava boleros rasgados, passionais, bem ao gosto dos parques e bordéis. Era um romântico sistematicamente incorrigível.

O outro dizia, nos palcos e telas da vida, textos difíceis e requintados. E com que propriedade!

Um casou-se três vezes e viveu Deus sabe quantos romances inenarráveis.

O outro, um cavalheiro, esposo único de uma verdadeira Dama, pai exemplar que deu origem a uma família de artistas.

Um freqüentava feiras, biroscas e butecos, tomava pinga com coca-cola, comia torresmo, pedia uma chave e uma carteira de Belmonte.

O outro conhecia o requinte dos hotéis da Europa, os caviares, os champanhes e os foie grasses da vida.

Um era o Brasil simples, humilde, autêntico e apaixonado de tantos quantos já solfejaram “Eu não sou cachorro não"!...

O outro, não menos brasileiro, não menos autêntico e tão apaixonado quanto, tornou-se um marco indelével em nossa Cultura.

Mas, ambos...

Ambos foram-se ontem, por um único caminho, para o mesmo lugar.

Missão cumprida, Waldick Soriano e Fernando Torres, dois ícones das artes brasileiras, mudaram-se ontem, de repente, para um pais chamado Saudade.

Que fique registrado aqui o nosso mais profundo respeito aos dois.

Ambos foram, nessa existência, exata, honesta e completamente o que se propuseram a ser: representantes autênticos da emoção de um povo.

Só no Brasil!... Só do Brasil, duas pessoas tão diferentes partem assim, no mesmo dia, de mãos dadas, sob lágrimas e aplausos, para a Imortalidade!

Amém!...

                                            
Compadre Lemos
Enviado por Compadre Lemos em 05/09/2008
Reeditado em 01/08/2010
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