Batalha perdida

Talvez alguns de vocês já tenham notado que eu tenho uma forte inclinação para o lado "correto" das coisas. Uma falha na criação dos meus pais. Ao invés de criarem um "brasileiro", eles criaram um indivíduo honesto. Brincadeira. Acredito que o povo brasileiro seja formado em sua maioria por pessoas honestas e humildes. O grande problema é que a minoria nada exemplar é que concentra a maior parte do poder, tanto capital quanto político, do país.

Esta oligarquia manda em todo o resto, controlando-nos, guiando-nos e, principalmente, corrompendo-nos. Afinal, como diz a velha máxima, "todo homem tem seu preço". Pode parecer hipócrita dizer isto, mas tente manter-se limpo quando se está frente a frente com uma escolha que coloca sua vida ou a vida de seus entes queridos em risco. Imagine-se em uma situação tenebrosa, vendo seus filhos/pais passando fome e você ali, impotente, sem alternativas para mudar o atual quadro. E eis que surge diante de você a opção degradante. "Se o mundo me deu as costas, nada mais justo do que me vingar", é o que você pensa. E em seguida você estará roubando ou matando. O sistema te corrompe, te leva a marginalizar-se. E este é um caminho que raramente tem volta.

Mas o problema não é o sistema. Afinal, ele se adapta ao ambiente que a população proporciona. O problema é a população não fazer nada para mudar. Ao contrário. Nós nos preparamos para seguir o caminho tortuoso. Ao invés de ensinar ao filho que honestidade é essencial, o pai ensina-lhe que em alguns momentos ele terá de agir contra as regras.

Eu sei que corro o risco de me tornar repetitivo, mas somos nós que criamos os monstros que hoje nos oprimem. Nós inventamos o tal "jeitinho brasileiro", nós criamos o hábito de burlar a lei e apunhalar os concorrentes. E isso já se tornou rotina. Invariavelmente o ser humano trai alguém próximo. O sistema lhe impôe isso. Instintivamente o ser humano prefere salvar "o seu" a favorecer alguém mais. Tudo bem, isso é instinto. Mas o problema é quando até nas coisas mais banais nós sacrificamos alguém ao nosso redor.

Esse meu discurso tem uma razão. Eu tenho convivido com pessoas ditas "normais". E tenho visto como estas pessoas tratam o ato de "traír". Neste ponto, é preciso especificar que eu estarei me referindo a traições amorosas. Sim, cornear a sua mulher.

Estes indivíduos com que tenho conversado consideram normal manter relações extraconjugais. Para eles, o sexo nada mais é do que uma necessidade fisiológica. Independe de com quem ele, o desejo, é saciado, o importante é saná-lo. Para estas pessoas, nada há de errado em burlar os votos de fidelidade que fizeram para com suas esposas. É natural que eles continuem fazendo sexo com outras mulheres, quando suas parceiras não estiverem disponíveis.

Nada mais justo, não?

É claro que não! Vocês conseguem compreender o nível de calamidade desta ação? As pessoas buscam justificativas para corroborar seus atos desonestos. Elas procuram uma forma de não sentirem-se culpadas ao trair alguém que nelas confia. E o pior é que tais pessoas encontram as razões.

A grande arma do bem é a consciência. Ela nos faz sentir mal após cometer algum erro. Ela pesa em nossa mente quando "aprontamos" alguma. E quando as pessoas buscam justificativas e com elas convencem suas consciências de que não estão cometendo nenhum mal, é porque nós como humanidade batemos no fundo do poço.

É o ser humano se adaptando para poder se beneficiar sem culpa. Quando as regras não são boas, nós descobrimos uma maneira de "atalhar", e quase sempre prejudicando outrem no processo.

E se trair algum desconhecido já algo terrível, imagine-se traíndo alguém que você ama...

A meu ver, isto é criminoso. Não prendamo-nos no adultério. Qualquer tipo de mentira para quem amamos é algo passível de punição. Mas, para toda a sociedade, o ato de enganar é digno e até justificável. E assim nós evoluimos. Temo que no futuro o assassinato venha a ganhar uma justificativa também...

Mas... Eu sou só um cara honesto que não sabe de nada...

E, como diriam os meus amigos "fiéis", "pode-se viver sem uma esposa, mas não dá pra viver sem sexo".

Desagradável...