A CHANTAGISTA

-Querida, já passou da meia noite e eu vou te dar logo os parabéns pelo seu aniversário. Sabia que você é a sexagenária mais bonita que eu conheço?

-Pára de falar mentira, senão, o seu nariz vai crescer mais ainda.

-Bem... Está tudo muito bom, mas tenho que te falar que o nosso filho saiu com o meu carro e não levou os documentos.

-Minha Nossa Senhora!!! Se já não bastassem os acidentes, assaltos, seqüestros relâmpagos... Por que você me contou uma coisa dessas, homem de Deus?!

-Uai! Com quem eu vou dividir a minha preocupação?

Às 4:00h.

-Amor, fui beber água e vi que o moço não está na cama dele.

-Misericórdia!!! Onde andará o nosso “menino”?!

Às 5:00.

-Ele já chegou, né?! Fala que chegou!

-Infelizmente, não.

ÀS 6:00.

-Pode voltar para a cama, meu bem. O nosso rapaz está em casa.

-Louvado seja Deus!!!

-Para sempre seja louvado!

Daí a pouco.

-Parabéns, mamãe!

-Meu filho, responda-me uma coisa: quando é que você vai crescer, hem?

-Eeeeeeeeeu?! Cres-cer?! O quê que eu fiz?!

-Nada! Você não fez nada! Apenas não avisou que ia dormir fora de casa!

O jovem saiu do quarto dos pais e voltou, em seguida, com um presente.

-Muito obrigada e pensa na pergunta que eu te fiz!

Na cozinha.

-Mamãe, cadê o papai?

-Não sou sua mãe. Você me matou esta noite. Aqui, diante dos seus olhos, está um cadáver de sessenta anos.

-Por favor, sem drama. Por que a senhora não ligou para o meu celular?

-Cadáver não faz isso.

-O papai já se levantou? Ele vai me levar no serviço.

-O que te impede de pegar um ônibus?

-Está bom! Está bom! Tchau cadáver!