COPACABANA E MICK JAGGER

Nunca morei em Copacabana. No entanto, aquele Bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro sempre me pareceu familiar, desde os primeiros anos da adolescência, quando zanzava por lá durante o curto período em que morei na Rua Gustavo Sampaio, no vizinho Bairro do Leme.
Após alguns anos de ausência, visitei esse simpático lugar na semana passada, a convite da minha amiga Isa.
O trecho que vai do Forte de Copacabana até o Hotel Meridien, na Av. Atlântica, beirando o mar, e suas paralelas – a Av. Nossa Senhora de Copacabana e a Rua Barata Ribeiro – tem a forma de um retângulo quase perfeito, limitado pelas montanhas no outro extremo. É esse o espaço por onde mais gosto de transitar a pé quando vou ao Rio, pois não há como me perder. Basta decorar a seqüência das Travessas que cruzam essas Avenidas para identificar o ponto exato de localização relativa. Este aprendizado dispensa guias turísticos, mapas ou GPS. Basta que o visitante tenha disposição para caminhar e boa memória visual. Isto já é suficiente para que eu tenha a sensação de estar em casa e, apesar de dezenas de reportagens veiculadas na mídia sobre assaltos, tiroteios, perseguições a criminosos, confesso que me sinto segura ali. De fato, nunca presenciei ou me envolvi em nenhuma ação desta natureza e nem ouvi das pessoas que vivem lá relatos sobre experiências pessoais semelhantes. É provável que tenhamos tido sorte ou sido contemplados com a proteção divina. Então não custa rezar para que permaneça assim.
É bom ver que continuam funcionando normalmente alguns pontos tradicionais como o Bar Cabral 1500, a venda de peixes frescos no cantinho do Forte, o trança-trança de turistas no imponente Copacabana Palace e em outros hotéis de luxo.
Coincidentemente, estava programada a realização do Show dos Rolling Stones, e já rolava o clima de Carnaval com Blocos, que aproveitavam o fechamento da Avenida Atlântica aos veículos para mostrar suas fantasias, batucadas e até protestos contra o Governo Local.
Envolvida na energia positiva que normalmente sinto quando ando por ali, sintonizei-me também com o clima de festa provocado pelos eventos. O sábado, que começou nublado e quente, convidava a uma longa caminhada no calçadão, onde ocorriam os retoques finais da montagem do super palco para a realização do “maior show de rock do planeta” e a chegada do público de um milhão e meio de pessoas previsto pela Rede Globo.
De fato, já caminhavam pela avenida centenas de jovens com idade aproximada de 18 anos, rumo à grande concentração. A maioria, vinda de longe, portava mochila e já apresentava sinais de cansaço no jeito de andar para lá e para cá.
Fiquei pensando em como deveriam estar preocupados os pais que permitiram aquela aventura ou que talvez nem soubessem por onde andavam os filhos.
E aqueles jovens? Será que sabiam mesmo porque foram parar ali? Será que entendiam as letras e os ritmos eletrizantes, que se espalhavam por toda a orla?
É inegável que o rock-in-roll vem atravessando gerações de talentos e fãs. Sem desmerecer o “energetic super man” Mick Jagger e seu grupo, fico questionando qual é verdadeiramente o significado de tanto investimento para reunir mais de um milhão de adolescentes em torno de um palco, em que o astro principal é um sessentão, que poderia ser avô deles e que não fala português, embora tenha um filho brasileiro.
Sessentão por sessentão, por que não promoveram um ou mais shows com um milhão de BRASILEIROS para comemorar, em PORTUGUÊS, os quarenta anos da Bossa Nova e da Jovem Guarda? Estes movimentos musicais produziram tantos talentos maravilhosos, como Tom Jobim, Vinicius de Morais, Elis Regina, Jessé, Tim Maia, Cely Campelo (in memorium), Chico Buarque, Toquinho, Ney Matogrosso, Geraldo Vandré, Maria Betãnia, Gilberto Gil, Gal Costa, Rita Lee, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderley Cardoso, Vanderléia, The Fevers, The Golden Boys, Os Vips, MBP-4, Quinteto Violado, Quarteto em Cy, Renato e Seus Blue Caps, Eduardo Araujo e Silvinha, Martinha, etc. muitos deles reconhecidos e admirados internacionalmente.

Como estamos em ano eleitoral, tenho a impressão que os animadores e patrocinadores do evento conseguiram mostrar aos presidenciáveis e aos demais candidatos a cargos públicos o tamanho da sua capacidade de mobilização de jovens eleitores. Ou terá sido apenas um autoteste?

Isa fez mais uma afirmativa e uma pergunta, que reproduzo para reflexão dos leitores:
- Alguém deve estar ganhando muito dinheiro com isso.
- Quem será?

(Direitos Autorais - Lei nºº 9.610/98)
http://www.ferool.info/fayad.htm
http://www.jornalecos.net/fayad.htm
http://www.vaniadiniz.pro.br/asp/linksamigos.asp?cod=179
http://www.recantodasletras.com.br/autores/sandrafayad
http://www.saladepoetas.eti.br/efigenia/ciranda/carnaval/index5.htm
Sandra Fayad Bsb
Enviado por Sandra Fayad Bsb em 25/02/2006
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