NÃO SOU AVESTRUZ
Daqui desta minha janela fico matutando sobre o que leio, escuto e vejo. O somatório disto tudo me leva quase sempre a uma visão crítica carregada de uma certa ironia, reconheço. O que sei ser extremamente perigoso, a ironia em excesso tende a irritar o leitor e a ironia deselegante , canhestra ou forçada ridiculariza o autor. É o que nos ensina Helena Montezzuma em seu “Noções de Estilo.
O que se há de fazer, quando a ironia me assalta e o desejo de falar me domina? Ainda não fui contaminada com a “Epidemia do Conformismo”, além do mais sou leitora de Reinaldo Azevedo e do Diogo Mainardi. Ora bolas! Não sou avestruz, não consigo enterrar a cabeça. De certo que não sou nenhuma águia, mas a impressão que se tem é de que para qualquer lado que o olhar for direcionado, percebe-se que neste país nada é politicamente correto. Nada visa o bem-estar comum.
Se é para desabafar...Começo reconhecendo que ainda não atingi a fase do pensamento próprio, mas tem nada não, Nietzche também passou por isto, assim sendo, lá vou eu apelar para Thomas More, para explicar pela boca do jovem Rafael Hitlodeu no Livro Primeiro de “A Utopia”, o que eu gostaria de dizer a um rei qualquer: “ A dignidade real não consiste em reinar sobre mendigos, mas sobre homens ricos e felizes... nadar em delicias, saciar-se em meio às dores e gemidos de um povo, não é manter um reino e sim uma cadeia. O médico que só sabe curar as moléstias de seus clientes dando-lhes moléstias mais graves, passa por ignaro e imbecil: confessai, pois – ó vós que não sabeis governar senão arrebatando aos cidadãos a subsistência e as comodidades da vida! Confessai a vossa incapacidade de dirigir homens livres!
De resto... é aguardar para ver o comportamento do nosso “flautista mágico”, encantador de excelências, só espero que o destino dos encantados não seja o mesmo dos ratos da história infantil “ O Rio”.
Isto posto, a palavra final fica com Maquiavel: “ Um homem que deseja ser bom, sempre bom, se perderá em meio a tantos que não o são”.