O MAR

Interessante como nosso globo terrestre é tão vasto (territorialmente falando) pelo azul das águas e muitos de nós temos de nos contentar com os dias cinzentos do asfalto e das grandes dimensões territoriais que nos condicionam a ver apenas os torrões das diversas cores; vermelho, branco, preto, bege, amarelo etc., porque vivemos em locais distante do Mar e por isso ficamos o ano todo sonhando em fazer aquela viagem de milhares de quilômetros para vermos aquelas majestosas águas azuis e verdes, que saltitam sobre a terra e lambem os horizontes, como se fossem um sonho que se tornará realidade se conseguirmos driblar nossas economias.

Lembro-me quando debutei nessa sensação que até hoje não me sai do pensamento, quando vi ao longe, numa enseada, aquelas águas que para mim pareciam infinitas e que expressavam um mundo novo, mas que me seduziam, porque almejava desfrutar de todas as regalias que a orla pudesse me oferecer. Sai incontido do veículo que me ofereceu essa oportunidade e com os calçados às mãos, em frenética correria, pisei nas águas que avançaram sobre mim e na minha ingenuidade, fui levado ao nocaute, cai como um bebezinho que estava aprendendo a caminhar. Logo, naquela minha posição inconseqüente e incontida, pude sentir o golpe salutar, recebi o solavanco da onda, respirei areia e água salgada, raspei os joelhos no piso úmido e me despi por completo daquele short matuto que timidamente escondia o pudor da minha nudez.

Nem o vexame da despedida inédita daquele short matuto, foi capaz de roborizar-me naquele momento. Arrojei-me com coragem de moço inexperiente, com o atraso de 20 anos (havia um bom tempo que pensava naquele delicioso encontro), mas, nem por isso, desisti de abraçar aquele Marzão, aquele colosso, aquele imenso torpor de águas, que me trazia para a narinas um sutil cheiro de peixes, mas que nada era igual ao que já tinha visto e sentido, pois a taquicardia daquele instante era tão intensa que trazia um turbilhão de emoções que se franziam em medo, respeito, admiração, contemplação, êxtase, exaltação e outros muitos adjetivos que são próprios desses momentos.

Apresentei-me em transe. Ergui os olhos para os Céus e reverenciei o dom inato do Criador. Como por tanta água no mundo e deixar tantos de nós tão longe delas? Uma pergunta que não precisava de respostas. Aliás, eu nem sequer deseja resposta alguma. Queria é cair mais uma vez, ser arrastado pelas ondas, chamuscar os joelhos com as areias que insistiam em encher minhas entranhas. Dar um mergulho enigmático que poderia expressar as glórias de um homem que quando nasceu viu o mundo e que quando conheceu o Mar enxergou a vida com outros olhos, porque doravante poderia render-se aos desígnios que estavam por vir, pois havia encontrado algo grandioso que move o mundo desde as grandes descobertas.

O mar não significa para o homem só a beleza e o encanto de suas águas e de suas ondas, porque sua grandiosidade desenhou o primeiro caminho do mundo. Em épocas remotas o homem sonhava voar, mas ainda não tinha construído suas asas, por isso teve de fazer seus barcos e sair à procura de outras terras. O mar foi guia, porque externou uma linha do horizonte e conduziu o homem para sua evolução. Uniu povos de diversas raças, porque propiciou o encontro do oriente com o ocidente. Revolucionou a capacidade de conquista e de progresso, porque serviu de estrada para mostrar que existiam outros seres humanos mais antigos que tinham outro costumes e outras línguas. Pra mim o Mar é o berço do mundo, que embalou nossas aspirações, que alavancou nosso progresso, que edificou o amor através dos tempos, evocando aspirações para o poeta, para que pudesse externar sua saudade, levando as cartas à milhões de quilômetros tornando bem mais pertos os amores distantes.

O Mar atraiu para junto de si inúmeras civilizações. Permitiu que fosse construído ao seu redor as grandes metrópoles, pois caso não fosse instrumento dessa vontade, teria utilizado de suas fúrias ocultas para lamber da terra as aspirações de quem desejasse se aproximar de sua orla. Exemplifica sua fúria e mostra sua força,sob a ótica das leis naturais e das necessidades dos flagelos da humanidade, quando derrama suas águas em terra árida levando as almas humanas para junto das suas fontes primárias, servindo na mão de Deus o cálice da moral, para que sirva de exemplo aos homens que teimam em exorcizar suas ganâncias.

Que a imensidão do mar e todo seu poder de magia que se impregna na inspiração humana, possa servir de holofote para que mundo verseje a bondade dos seres vivos e que doravante cada um de nós possa olhar para quantidade de suas águas, podendo dimensionar o Poder Divino espelhado nas suas ondas e no seu explendor de contemplação, para que possamos alcançar nosso avanço almejado no mundo transcendental, conduzindo nosso Mundo para um lugar de respeito e de fraternidade.

Oh! Mar. Oh! estrondoso mundo das águas.

Traz em nós suas profundezas.

Mostra-nos seus mistérios.

Conduza-nos às suas verdades.

Expressa-nos seu carinho...

Mas mostra sua fúria...

Ensina para o homem a sua fibra.

Que você é natureza grande.

Que pode segurar a mão de Deus.

Para que entendamos a lição!

Machadinho
Enviado por Machadinho em 03/09/2008
Código do texto: T1159755