A Dor Não Tem Preço
“A dor não tem preço”.
É o que costumamos ouvir e o que aprendemos a dizer. A dor é conseqüência de todo e qualquer sofrimento que nossa alma é obrigada a sentir, é a palavra que talvez mais se aproxime da agonia do corpo, da mente e coração. Dor é sofrimento, seja ele breve ou infindo, seja forte ou ligeiro; seja, assim, como for.
Alice, enquanto cortava a carne para preparar o almoço, mutilou um pedaço do dedo. Choraram seus olhos em lágrimas; chorou o corpo, em sangue. Isso é dor.
Lúcia assinou, pela manhã, o divórcio de Daniel. Findaram vinte e seis anos de cumplicidade por um rabisco simples e preciso num papel. Isso é dor.
Paulo, enquanto via um filme em preto-e-branco na tevê, recebeu um telefonema. O filho morrera enquanto atravessava a rua, atropelado por um motorista de pouca idade, que dirigia alcoolizado. O choro - de luto - não chorou. Isso é dor.
Vivemos numa oscilação de sentimentos, pendendo entre a glória e a agonia, embora estejamos todos sempre em busca de um só extremo: a felicidade. Mas, seria essa suntuosa beleza tão bela se não conhecêssemos o pesar da aflição? Seria, ela, tão desejada assim?
Nossos olhos, viciados, costumam distorcer o encanto de tudo, inclusive da dor. Nos sentimos felizes por encontrar o amor depois de tanta rejeição; nos sentimos assim quando abraçamos um amigo ausente por tanto tempo; e sorrimos pelo acabado depois de tanto buscarmos as lacunas de nós mesmos.
A lógica das coisas é o complemento de tudo, e completos nos achamos ao percorrer um caminho por inteiro. A sabedoria é conseqüência da experiência; a compreensão, da paciência; o conhecimento, da humildade; o amor, da solidão. Nossa glória prescinde derrotas, por isso é tão gloriosa assim.
O que percebo, no entanto, é que queremos muito mais do que nos permitimos, vivendo tanta coisa de forma superficial, e, conseqüentemente, suprimindo a intensidade que a vida deve ter.
O preço da dor, então, pode ser a felicidade. O preço da felicidade, entretanto, sempre será a nossa dor.