Ausência por Motivo de (falta de) Saúde
Por causa de uma dor incômoda no cotovelo que venho sentindo há uns dois meses, parei o tênis e a ioga. As raquetes encostei logo, achava que meu problema era o temido cotovelo de tenista, responsável por afastar das quadras muito “cabra bom”. Que dirá eu, que só fui me envolver com o esporte de Guga já passada dos trinta anos?
Após uma partida em que a dor incomodou bastante, apelei para as compressas fria e quente e os antiinflamatórios de sempre. Melhora percebida, uma semana depois, voltei ao clube. Na primeira raquetada, disse à bolinha:
- Não chora! Doeu muito mais em mim do que em você.
Ela riu, tombando chocha aos pés do professor.
E eu pus a viola, digo, a raquete no saco, o rabo entre as pernas e fui procurar um médico.
Adorei. Cheguei lá, ele me jurou que eu não tenho nenhum problema no cotovelo, e sim no pescoço. Melhorando a postura e praticando alguns exercícios de relaxamento, reduziria a compressão sobre os nervos que atravessam as vértebras e, em quinze dias, no máximo, eu poderia voltar a jogar. Por via das dúvidas ele me deu uma requisição para radiografias. Se não melhorasse neste intervalo, faria as chapas e, caso houvesse alguma coisa, iniciaria o tratamento: injeções e fisioterapia. Em último caso, cirurgia:
- Mas se, ao fim das duas semanas você ainda estiver com dor e fizer a chapa, não vai dar nada. E você vai saber que não seguiu minhas orientações direitinho. - disse ele, convicto.
Saí aliviada. Segui as orientações direitinho e, passados os quinze dias, ainda sentia a dor no cotovelo, mais algum desconforto no antebraço, pontadas na omoplata e uma certa dormência no pulso. Irritada, me arrependi de ter acreditado nele e esperado tanto. Devia ter feito logo o exame. Perdi quinze dias, à toa.
Na clínica, o rapaz que tiraria minhas radiofotos leu, mais para si do que para mim:
- A senhora tem tórax, ombro e cotovelo...
- Todos nós temos, não? - perguntei.
Ele parou, com a requisição na mão, olhou para mim surpreso e riu. Não antes de eu me desculpar pela gracinha. Ele disse que era bom, para descontrair. Não descontraiu. Saí de lá meio tensa, após fazer pose de soldado para cada um dos oito disparos, temendo os efeitos cancerígenos de tanta radiação...
No dia seguinte. Resultado: êne, ó, érre, ême, a, éle. Normal! Tudo normal! Nenhuma luxação, artrite, artrose... nada. O médico tinha razão. Mas, se segui todas as orientações, por que só piorei? Enquanto digitava o texto que publiquei na segunda-feira, senti agravar-se novamente todas as sensações nos ombros, costas, antebraço, cotovelos, punhos e até o mindinho, especialmente quando arrasto o mouse.
O cérebro preguiçoso sob a cabeleira loura confirma o estigma do anedotário. Demoro a observar e perceber o óbvio: é o ratinho. O bendito mouse que tem me feito tanto mal, somado às mesas pouco ergonômicas que uso em casa e no trabalho. Tento usar o camundongo com a mão esquerda ou substituir a maior parte de seus comandos pelo teclado. Difícil demais, exige concentração e, no ritmo do meu trabalho, simplesmente, contraproducente. Como lá é impossível abandonar o micro, sacrifico o acesso doméstico. Vou dar um tempo em meus escritos. Já troquei a pilha do meu gravador, vou lançar as idéias lá. Falar pelos cotovelos já que não posso mais contar com eles para escrever... Aproveitar para ler um pouco mais, ver o tênis na TV... quem sabe não aprendo um pouco?
Não vou parar de publicar. Apenas diminuir a freqüência. Ao invés de um texto por dia, um ou dois por semana. Menos que isso, não dá.
Só de pensar nesta hipótese, já bateu forte uma tremenda crise de abstinência...