Taizé: A minha segunda casa

Taizé

A minha segunda casa

Pode parecer estranho a uma pessoa que viaja várias vezes por ano dentro de Portugal e pelo menos uma vez por ano pela Europa fora que só me sinta realmente em casa num lugar: Taizé…

Sou se calhar demasiado pegado aos meus pequenos luxos com que encho parte da casa onde moro, luxos triviais : o quase inseparável Computador, imensos livros, diversas miniaturas e quase infinitas revistas, comidita “fast food”, enfim nada de extravagante, mas são coisas minhas, gostos meus, que à excepção dos livros não costumo partilhar com ninguém…Mesmo na cidade onde moro há zonas que pouco frequento e que não sinto como “minhas”, apesar da cidade ser pequena e seja difícil não passar nesses locais…

No entanto, no entanto há sempre “um no entanto” em histórias que aparentam ser triviais e que ao virar da esquina de mais uma frase algo acontece…

No entanto…Quando dou comigo ao ver ao longe a localidade de Taizé, sinto como se regressasse a casa…Desde à aldeia ao acampamento e, claro, à sua comprida e bela Igreja, tudo me é familiar, a compensar o resto: normalmente levamos 3 dias de viagem pois visitamos outros locais antes, temos de dormir, no mínimo, uma noite na camioneta, tarefa difícil a quem está habituado a uma cama tipo “king size”, mas depois mentalizado e derrotado pelo cansaço lá consigo arrancar à cadeira e a um corpo desejoso de cama, uma ou duas horas de sono, sendo o resto gasto a apreciar a noite, um caminho quase sem luzes e onde tento adivinhar o caminho para uma Taizé ainda longe…Depois, bem depois é a confusão da chegada, a confusão da inscrição e por fim o descanso do guerreiro materializado numa camarata a ser compartilhado com mais 7 estranhos, algo que no tempo da tropa detestava, mas como estou em casa, aquela camarata é de facto o meu domicilio afectivo durante uma semana, pois sinto que faço parte dela…E até mesmo a comida de Taizé, óptima mas para gostos mais ascéticos, é suportável, pela recompensa de estar na minha terra, entre as minhas gentes, ir a debates teológicos que não os tenho em mais nenhum outro local, ir às orações principalmente às da noite que tanto me encantam ou pura e simplesmente antes de ir para a cama, passar uma hora em silêncio na Igreja, sem rezar (eu não rezo…) sem orar (eu não oro…) sem cantar (por motivos óbvios de falta te tom e medo de espantar quem esteja a meu lado num raio digamos de…300 metros…), estar ali por estar, por me sentir numa espécie de útero espiritual, ou uma coisa que não consigo explicar…

Eu que detesto visitar cemitérios vou pelo menos uma vez ao cemitério ver o túmulo do fundador da comunidade, do Irmão Roger, morto em 2005 na sua, na minha Igreja, homem que não conheci mas que olho como um mestre, mas sobretudo como um Irmão meu…

Era se calhar fácil a explicação desta familiaridade se me remetesse ao campo religioso…talvez…Lá e à excepção dum par de livros que levo sempre comigo e de um caderno para escrever e desenhar, não sinto a falta dos meus pequenos luxos…Mas para mim Taizé é mais do que a religião que redescobri à relativamente pouco tempo, supera a religião e se calhar a minha própria crença em Deus que é infinita, pois para mim Taizé é o centro do mundo, é a minha mãe-terra, o meu centro nevrálgico, sem o qual, sem a ver, sem a recordar teria uma existência menos alegre e mais sombria, pois sinto um amor por aquele lugar maior do que o amor a Deus, maior do que o amor a uma mulher e só comparável ao amor que sinto pela minha Família nuclear…

Taizé

A minha segunda casa

2 de Setembro de 2008