TOBOGÃ IDIOTA
Às vezes penso que tenho 20 anos e tudo fica bem difícil. É verdade! Aí volto para a minha idade e tudo está devidamente correto. Apenas preciso entender que não existem limites para o pensamento, para o sonho... As realizações, é que não deviam se concretizar, em sua grande maioria, uma vez que perdem a graça, quando realizadas, e, a frustração é devastadora lhe deixando vazio e terrivelmente cansado.
Estou começando a mudar uma série de conceitos, tentando me entender com o objetivo de melhorar minha qualidade de vida, e, quem sabe assim, ser mais feliz, mais leve, mais solta e menos braba... E, claro, normalizar o “Tum... Tum...” Ele anda muito acelerado. Quando isso ocorre, por conta de um momento de avassaladora paixão, se justifica e é muito bom. Contudo, não é o caso.
Morrer de raiva é castigo. Morrer de amor é presente Divino. Poucos têm tal merecimento. E se fosse possível escolher, escolheria morrer de amor, evidentemente.
Com essas reflexões caminhava a beira do mar e aqui e ali dava um mergulho, nadava um pouquinho – não posso forçar - e continuava conjecturando.
Logo descobri que precisava fazer alguns planos, inventar uns bons sonhos, navegar por dentro de mim em busca de objetivos bem absurdos, estapafúrdios mesmo – que graça tem a vida sem isso? E quanto mais impossíveis e irrealizáveis, melhor.
Resolvi sentar, tomar uma água de côco e curtir a beleza do dia de sol brilhante, mar azul, calmo, pouca gente... De repente uma algazarra me tira abruptamente de meu sossego e de minhas reflexões. – Acho que estou me tornando filósofa. (Rsrs)
Uma alegre e barulhenta família se aproximava. Um jovem casal, uma filha de uns cinco anos, os avós, duas tias, a babá e o cachorrinho. A alegria era evidente em todos. Será que estavam vendo o mar pela primeira vez? - Perguntei-me.
Em seguida compreendi a razão de tanta euforia. O pai da garota, com a ajuda do avô, abriu um pacote de plástico enorme. Pensei ser um toldo, mas não era. Depois de armado, quero dizer, inflado, parecia um tobogã no sentido contrário e que, colocado a beira do mar, na vertical, ficou deslocado, sem jeito... A essas alturas eu já previa o desfecho.
A parte inflada, metade de uma circunferência, tipo bóia, eles colocaram de costas para o mar. Dela saia uma passarela, de uns vinte metros de plástico, - a rampa do tobogã, na minha dedução – vinha do mar e se estendia pela areia até quase perto de onde eu estava.
A expectativa era geral e a menininha, entusiasmadíssima, não parava de perguntar à mãe se já podia brincar. Como estava ventando muito –os restos dos “Ventos de Agosto” com toda certeza – atrapalhava a aderência do plástico na areia molhada. Correram todos para ajudar. Depois de uma peleja grande, conseguiram. A mãe então diz para filha: pronto princesa!
– A garota se jogou. Não escorregou nem meio metro.
(Ora, em terreno plano, como poderia?!)
Neste momento, o pai pergunta para a babá pelos baldes. – Agora complicou tudo, constatei.
Chega à babá. Gorda! – Coitada, dava dó! Suadíssima, cansada, esbaforida, mas com os baldes. Eu já não pensava em mais nada. Só antevia a comprovação das minhas reflexões.
Todos pegaram um balde e começaram a trazer água do mar para jogarem na “rampa” ou “pista” do “tobogã e assim a garota ter condições de escorregar até a circunferência inflada, a qual, a essas alturas, já estava cheia d’agua.
- Aí a mãe novamente grita: agora minha filha! A menina se joga, e, nada! Depois de várias tentativas. A mãe resolve ela própria fazer a demonstração – e eu de cá: a coisa agora vai pegar...
- Joguem água, joguem mais, e, ela se jogou de barriga. Foi com tudo!
- Ai! Senti a dor!
O silêncio foi total. A menina de tanta tristeza nem falava. A mãe chorava. A avó gritava com o filho por ter comprado aquela “coisa” para sua neta e o avô, foi embora sem dizer nada.
Quanto a mim, fiquei muita chateada com aquele “tobogã” idiota.